Quem na verdade compôs as canções dos Beatles foi o filósofo alemão Theodor Adorno. John, Paul, George e Ringo, os Fab Four, não passavam de semianalfabetos musicais e mal sabiam tocar violão.
A denúncia explosiva foi feita em um vídeo de dois minutos de duração pelo guru do bolsonarismo, o astrólogo, amante de armas, defensor do tabagismo e professor de curso de filosofia a distância Olavo de Carvalho.
Ressalte-se que Olavo não tem total convicção de que isso seja verdade. Ele diz que vai investigar a informação, mas a considera plausível. No mesmo vídeo, porém, fez outra revelação retumbante, da qual, essa sim, tem certeza: grande parte das composições dos grupos de rock americanos são satanistas. Que medo.
Eu, que sou um crédulo, fiquei chateado ao descobrir que os Beatles eram uma fraude.
Os Beatles, quem diria?
Ao mesmo tempo, me espantei com a genialidade de Adorno. Ele era, de fato, musicólogo, além de filósofo, mas suas composições não se assemelham a nada como Love me Do ou A Hard Day’s Night. Mesmo assim, o homem conseguiu construir um sistema filosófico e, nas horas vagas, criar a banda de maior sucesso popular da história, com músicas que, 50 anos depois de gravadas, ainda emocionam as pessoas. Adorno era tão bom, mas tão bom, que criancinhas que hoje ouvem o som dos Beatles se tornam fãs imediatamente. Que monstro esse Adorno! Um Michelangelo! Um Leonardo da Vinci! Um Rivellino!
Mas, refletindo um pouco, precisamos reconhecer que os Beatles tiveram algum mérito. Afinal, depois da morte de Adorno, em 1969, eles continuaram fazendo musiquinhas interessantes. A carreira de Paul McCartney nos Wings, por exemplo, não contou com a participação de Adorno, e ele compôs músicas como Another Day e My Love, que é uma das baladas românticas mais belas do mundo em todos os tempos, amém. John Lennon também andou produzindo umas coisinhas depois de 69, como Imagine, que talvez seja o maior hino pacifista da história. Além disso, temos de admitir que George Harrison conseguiu aprender a tocar violão, a ponto de se transformar em um dos mais virtuosos guitarristas do planeta, competindo com semideuses como Eric Clapton, com quem ele, certa feita, travou um duelo de guitarras na disputa por uma moça (Clapton venceu, mas Harrison caiu atirando. Ou tocando).
Essas ponderações atenuam a minha decepção com os Beatles, mas ainda me sinto devastado. Eu os admirava tanto…
Ainda bem que Olavo abriu meus olhos. Ele tem exercido essa função no nosso novel governo. Mais até: Olavo é responsável pela indicação de ministros. É a ele que devemos agradecimento pela nomeação de Abraham Weintraub para a importantíssima pasta de Educação. Verdade que o ministro tem dificuldades com a língua portuguesa – ele andou escrevendo paralisação com z e suspensão com cê-cedilha em um ofício do ministério e volta e meia se atrapalha em seus tuítes. Verdade, também, que as ações do ministro podem comprometer a pesquisa científica no país e o funcionamento das universidades. Mas, com ele e com seu mestre Olavo, nós estaremos salvos do comunismo. É um alívio. Podemos até escutar algumas músicas que Adorno compôs e Lennon & McCartney assinaram, tudo bem, mas nossa bandeira jamais será vermelha.