Eu achava que Everton fosse o Cebolinha. Eu achava que Everton fosse um guri. Essa impressão começou a se apagar às 21h49min de terça-feira, depois que ele marcou o gol de empate contra o Palmeiras, no Pacaembu. Sentado no sofá da sala, assistindo pela TV, vi Everton passar por debaixo do travessão e colher a bola do fundo das redes. Com ela sob o braço direito, cerrou o punho esquerdo, rilhou os dentes e gritou para os companheiros de time:
– Vamos ganhar!
Muitos outros jogadores já fizeram o mesmo gesto, no passado, mas desta vez houve algo diferente: a mudança era o próprio Everton. Ali não havia mais o menino simples que se diverte jogando bola. Não. Ali havia um líder. Ele empurrava a sua equipe para cima do inimigo.
Quatro minutos depois, Everton cometeu uma temeridade. Ele recebeu a bola a um passo do grande círculo e olhou para a frente. Diante dele posicionava-se praticamente o time inteiro do Palmeiras. Então, ele tomou uma decisão irresponsável: iria driblar todos, até chegar ao gol. Qualquer técnico sensato o condenaria, talvez pensasse até em tirá-lo do time por essa deliberação desmiolada. Mas não Renato. Renato não é um técnico sensato: é um técnico audacioso.
Com as bênçãos de Renato, Everton foi. Junto com ele era como se fossem Foguinho e Luiz Carvalho, Gessy e Juarez, Tarciso e Iúra, Paulo Nunes e Jardel, porque Everton não parecia um só, parecia legião, porque era muitos. E ele investiu verticalmente, quase que em linha reta, deixando, no primeiro toque na bola, dois adversários para trás e em seguida mais um e mais dois e veio o goleiro e também o goleiro ele evitou, mas caiu, e a bola sobrou para Alisson, e foi gol.
Romildo, providencie, por favor, uma placa para eternizar em bronze o gol de Everton e entregue-a ao Museu do Futebol do Pacaembu. Nessa placa, descreva a jogada, como fiz acima, mas não termine o texto sem observar que essa foi a obra de um menino que cresceu e que está se tornando gigante.
Se você acha que exagero, conto, agora, a circunstância em que vive Everton. É o seguinte: desde o começo do ano, circulam, diariamente, boatos de que ele será vendido para um clube europeu, que no Velho Mundo ganhará milhões, que a glória planetária o aguarda. Isso acontece muito com grandes jogadores e, quando acontece, sabe como eles reagem? Diminuindo-se. Eles se desconcentram, eles fazem pressão para sair, eles não demonstram mais vontade de jogar onde estão. Everton fez o contrário. Everton se tornou maior. Nunca reclamou, nunca fez chantagem, nunca deixou de se esforçar. Nessa partida épica contra o Palmeiras, ele marcou atacantes na lateral direita, ele puxou contragolpe aos 48 do segundo tempo, ele se atirou aos pés dos adversários para roubar a bola. A estatura de Everton aumentou depois dessa partida. Agora ele é outro. Agora ele não é o Cebolinha. Agora ele é um homem.