Eu já imaginava que nós iríamos acabar. Nós, que digo, é o Rio Grande do Sul. Nesta quinta-feira (4), a secretária estadual do Planejamento, Leany Lemos, confirmou minhas suspeitas. Ela concedeu entrevista ao Timeline e, entre outras coisas interessantes e sisudas, disse que mais pessoas saem do que entram no Estado. Além disso, a nossa taxa de natalidade é a menor do país. Estamos envelhecendo rapidamente. A projeção é de que, em 10 anos, 30% dos gaúchos teremos mais de 60 anos de idade.
Isso me deixou muito feliz. Seremos mais velhos e, portanto, mais sábios. Nada de arroubos juvenis. Nada de açodamento. Passaremos a sopesar, antes de tomar decisões. Esse, aliás, será nosso verbo preferido. Você verá alguém parado num canto e quererá saber:
– O que você está fazendo?
– Estou sopesando…
Estaremos realizados, quando sopesarmos.
Outra vantagem: pessoas idosas não são afeitas às redes sociais. Ou seja: seremos menos belicosos, brigaremos menos. A paz, enfim!
Como a população está diminuindo, as cidades serão menores, fáceis de administrar e agradavelmente espaçosas. A Porto Alegre do futuro será sempre como a Porto Alegre de janeiro e fevereiro: sem engarrafamentos, sem filas em bares, restaurantes e cinemas, tranquila e funcional como uma boa cidade tem de ser.
Essa é, inclusive, uma grande notícia de cunho filosófico. Schopenhauer pregava a extinção gradual da humanidade a fim de também extinguir o inevitável sofrimento. Essa extinção não se daria pela eliminação, e sim pela renúncia à atividade reprodutiva. Sei bem que o próprio Jeová deu as seguintes orientações ao primeiro homem e à primeira mulher:
“Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a Terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão!”.
Está visto que obedecemos, mas não foi uma boa ideia de Jeová. Ao nos multiplicarmos, acabamos produzindo muita gente estranha. Está certo: você olha para uma criancinha e se comove. Ela é tão bonitinha… Pense, por exemplo, nos três filhinhos de Bolsonaro quando eram pequerruchos. Você diria:
– Uóóóó…
Bem. Olhe para eles agora.
É assim que é. Schopenhauer estava certo. A secretária disse, no Timeline, que não concorda com ele.
– Sou a favor da reprodução humana – afirmou, com toda a determinação que pode ter uma secretária do Planejamento.
Pois eu, que não sou secretário, sou contra a reprodução humana. É verdade que já me reproduzi e não me arrependo nem um pouco. Foi bom, admito. Mas temos de pensar no macro. Proponho que paremos com esse negócio de sexo. Sexo, sexo, sexo. As pessoas só pensam nisso. É demais, mas não na acepção consagrada pelo Pedro Ernesto, de algo “demais de bom”. Não. É demais porque o sexo é superestimado. E pode causar problemas, vide o caso recente do nosso craque, Neymar.
Sem sexo, tudo será mais asseado. E o Rio Grande amado, como sempre, encontra-se na dianteira desse processo civilizatório. Uns estão indo embora, outros estão deixando de se reproduzir. E nós, que restamos, sabiamente, caminhamos rumo à decrepitude.
Será lindo o Rio Grande no porvir: todos usaremos boina, todos jogaremos damas, moinho e escova, todos nos queixaremos das articulações. Malditas articulações. Não é por acaso que há tantas farmácias pelo Estado. Precisamos delas. Sentimos as dores da idade. Mas somos felizes assim. Deixem-nos aqui, quentinhos nos nossos cardigãs, suspirando ao recordar dos sucessos românticos do Rei, sentindo a doce nostalgia que dá quando pensamos nos bons e velhos tempos.