Ildo Meneghetti estava errado. Gre-Nal não é Gre-Nal. Gre-Nal é muito mais. É a essência do Rio Grande.
Há quem diga que o Gre-Nal demonstra o nosso caráter maniqueísta — somos chimangos ou maragatos, petistas ou bolsominions, liberais ou socialistas. Essas disputas recorrentes ganharam, inclusive, um neologismo para defini-las. No Rio Grande, elas não são mais maniqueísmo. São, exatamente, "grenalização".
Mas a grenalização, neste caso, é quase pejorativa. É um sinal de que a pessoa se aferra tanto ao seu ponto-de-vista que se torna facciosa.
Trata-se de uma acepção equivocada.
A grenalização de verdade, a das duas grandes torcidas, demonstra algo positivo: o imenso potencial do Rio Grande do Sul.
Porque o Rio Grande é um estado periférico do Brasil. Está pendurado na pontinha de baixo do país, meio que querendo cair no Uruguai e na Argentina. Longe demais das capitais, como diriam os Engenheiros do Hawaii. A economia do Rio Grande é 6 ou 7% da economia nacional, Porto Alegre é a nona ou décima maior cidade, e a população do Estado até vem diminuindo.
Grêmio e Inter, porém, estão sempre decidindo campeonatos. Agora mesmo, na semana em que a história do clássico Gre-Nal completa 110 anos, estão, ambos, entre os quatro semifinalistas da Copa do Brasil. E mais: Porto Alegre é uma das poucas cidades do planeta que tem dois campeões do mundo.
Há alguma teoria científica, uma filosofia ou um livro que possa explicar tamanha pujança?
Há.
O escritor britânico Michael White escreveu, anos atrás, um livro intitulado "Rivalidades Produtivas". Não é sobre Grêmio e Inter, é sobre gênios que tinham rivais, como Edison e Tesla ou Leonardo e Michelângelo. A rivalidade fazia com que eles se esforçassem para fazer sempre melhor do que o outro. Assim, estavam sempre em processo de evolução, sempre crescendo, sempre melhorando.
É o que acontece com a dupla Gre-Nal. O Inter tenta ser melhor do que o Grêmio, que tenta ser melhor do que o Inter. O sucesso de um inspira o outro. O Grêmio tinha a Baixada? O Inter construiu um estádio melhor, os Eucaliptos. Que fez o Grêmio erguer o maior estádio particular do Brasil, na época, o Olímpico. Que obrigou o Inter a arrancar do Guaíba o Beira-Rio. Que estimulou o Grêmio a aumentar e modernizar o Olímpico. Que levou o Inter a fazer o mesmo no Beira-Rio. Que açulou o Grêmio a levantar a sua imponente Arena.
Repare: cada estádio corresponde a uma era de vitórias.
Onde vai parar isso?
Mais longe do que você pensa, pode ter certeza.
E tem uma notícia ainda mais importante, nessa rivalidade produtiva: eles estão começando a compreender que, se atuarem juntos, são capazes de realizar façanhas que servirão de modelo à toda Terra. Não faz muito, no primeiro frio do inverno de 2019, gremistas e colorados se juntaram para fazer o bem a quem pouco tem.
Reuniram roupas, alimentos, teto e carinho para homiziar quem não tem moradia. E foi lindo. É o princípio de algo maior que está por vir. Porque quando meio Rio Grande se une, seja a metade azul, seja a vermelha, o mundo treme. O Rio Grande por inteiro, então, é irresistível.
O Gre-Nal mostra essa nossa capacidade. Viva o Gre-Nal. Porque Gre-Nal é muito mais do que Gre-Nal.