Tive um sonho com números. Daqueles premonitórios. Daqueles de fazer o sonhador ficar rico. Foi um sonho impressionante. Talvez até conte para você, ao longo desta crônica, os números com que sonhei, para ficarmos ricos juntos.
Você não acredita em sonhos com números? O meu amigo Salézio ganhou uma fortuna jogando números com que sonhou. Faz tempo isso, foi nos anos 80. O Salézio era, e ainda é, motorista em Criciúma. O melhor motorista. Na época, ele prestava serviços para o Diário Catarinense, jornal fundado pela RBS, onde pela primeira vez trabalhei como repórter.
Nesse dia em que o Salézio ganhou na loteria, nós fomos fazer uma matéria no Farol de Santa Marta. Ele era o motorista, eu o repórter e o fotógrafo era o grande Ezequiel dos Passos, o Zeca. Lembro de algumas coisas dessa pequena viagem. Nós rodávamos no Santana Quantum prata do Salézio e, do rádio, evolava-se aquele som do Toto: “I bless the rains down in Áaaafricaaaaaa…” O que fomos apurar? Não sei, mas sei que, na volta, propus:
– Vamos comer uma tainha ao molho de camarão na Laguna?
Eu conhecia um lugar que servia ótima tainha ao molho de camarão na Laguna.
Naquela noite, antes de viajarmos, o Salézio havia sonhado com um número: o 38. Foi 38 e 38 e 38 a noite inteira. Ao sair de casa, um carro quase bateu no seu belo Santana Quantum. A placa do carro era… 3838. Depois disso, a filha do Salézio ligou, dizendo que havia sonhado com um amigo dele. Bem. Naquele tempo, os telefones tinham quatro dígitos. E o número do telefone do amigo do Salézio era… Você já adivinhou: 3838. Com todos aqueles trinta e oito reboando em seu cérebro, é claro que o Salézio decidiu jogar no bicho. Foi a um bicheiro amigo e mandou:
– Joga tudo no 38! De alto a baixo, da esquerda pra direita, tudo o que puder.
– Quanto?
– Quinhentos cruzados!
Era uma fortuna. O bicheiro amigo aconselhou que ele não cometesse aquela loucura. Ia perder dinheiro. O Salézio, então, preencheu um cheque de 250 cruzados. Mas saiu de lá acabrunhado. Ele queria apostar mais naquele 38. Pouco antes de nos pegar para ir ao Farol, parou em outro bicheiro e apostou mais 250.
Depois da reportagem e da tainha, quando chegamos de volta a Criciúma, no fim da tarde, a cidade estava em alvoroço. Todos procuravam o Salézio. Naquela época, não existia telefone celular, não havia como a gente saber: dera o 38 na cabeça. O Salézio ganhou o equivalente, segundo ele, a 20 terrenos no Rincão, a praia de Criciúma. Com aquele dinheiro, comprou carro, reformou a casa, melhorou de vida, mas não ficou rico. Oportunidade de ficar rico ele teve mais tarde, ao sonhar com seis números. Acordou de madrugada com aqueles números rodando na frente de seus olhos.
– Mulher! – gritou. – Onde tem papel? Preciso de um papel!
A mulher dele, estremunhada, não entendeu o que o Salézio dizia. Ele teve de saltar da cama, desesperado, para vasculhar as gavetas de todas as cômodas, urrando:
– Papel! Preciso de papel!
Homens não são bons em encontrar coisas. Mulheres, sim. Só quando a mulher dele se levantou e foi atrás do papel, o papel foi achado. Aí o Salézio berrou:
– E a caneta? Cadê a caneta???
Até encontrar a caneta, dois números tinham se esfumaçado na mente dele. Seriam 32 e 33 ou 52 e 53? Ou 42 e 43? Por via das dúvidas, anotou os quatro de que lembrava. Apostou-os, junto com o 32 e o 33, na Mega Sena, que estava acumulada em R$ 75 milhões. Ganhou na quadra: os outros dois números eram o 52 e o 53.
Então, sonhar com números pode dar samba. Sonhei com números. Foi um sonho muito forte. Vou contar na próxima coluna como foi. E vou revelar os números! Sou generoso. Ficaremos ricos juntos!