É simples ser feliz. Você não precisa ter muito dinheiro, ser poderoso ou se deleitar com as supremas delícias do sexo, você não precisa nem sequer de realização profissional para ser feliz. Trata-se de tarefa simples, portanto, mesmo que não seja fácil.
Segunda passada, falamos de felicidade no Sala de Redação, aquele programa de pândegos. Afirmei que o prazer não traz felicidade, e o Pedro Ernesto saltou detrás da mesa como se o tivessem espetado:
Coisas ruins acontecem com todo mundo, mas isso não é importante. O importante é como a gente reage às coisas ruins.
– E o que é que traz, então?
Ia começar meu arrazoado, mas alguém puxou o fio de outro assunto e o novelo de argumentos se desenrolou pelo estúdio e não pude concluir o pensamento. Agora concluo: é o contentamento, Pedro. O contentamento é que produz felicidade.
Não estou falando em ficar contente, é menos do que isso. O contentamento não é a gargalhada e nem mesmo é o riso. No máximo, o sorriso. O que não significa, claro, que o riso, a gargalhada, os prazeres inenarráveis da carne, o poder e o dinheiro não possam contribuir para a felicidade. Podem. Até contribuem. Mas, na maioria das vezes, em vez de ajudar, atrapalham.
Os problemas de um homem, quase todos, se dão por ele desejar demais o dinheiro, o sexo ou o poder. Quanto menos o homem deseja, mais perto fica da felicidade.
E ainda há mais. Há o medo. Noite dessas, antes de dormir, deitado na cama, meu filho perguntou:
– Como é que a gente pode ter certeza de que alguma coisa horrível não vai acontecer com a gente?
E ali estava eu, sentado à beira do colchão, diante da questão mais inquietante da humanidade, tendo de dar uma resposta a um menino que confia em mim muito mais do que você confia, ingrato leitor.
Lembrei-me de Sêneca, que, 2 mil anos atrás, debatia-se com esse mesmo drama, o pior dos dramas, pois, se, afinal, desgraças desabam sobre criancinhas que nunca fizeram mal a ninguém, se até os bichos sofrem sem nunca terem feito nada de errado, por que algo horrível não pode acontecer com você, que peca? O que garante que algo de muito ruim não lhe sucederá?
Sêneca dizia que, quando você depara com essa pergunta, a resposta correta é: não tenha mais dúvidas – algo péssimo VAI acontecer com você. O que você deve desenvolver é a certeza de que não há como evitar que algo negativo lhe suceda. Pior: essa história, a sua história, vai acabar em morte.
No momento em que você adquire essa certeza, você relaxa. Como não há o que fazer, você nada faz. Você apenas vive bem o seu dia, que é a melhor forma de bem viver.
Assim, olhei para o meu filho, que, debaixo dos cobertores, esperava por uma resposta, e fiz uma tentativa:
– Coisas ruins acontecem com todo mundo, mas isso não é importante. O importante é como a gente reage às coisas ruins. Uma pessoa que reage mal transforma uma coisa boa numa coisa ruim. Uma pessoa que reage bem transforma uma coisa ruim em uma coisa boa.
Ele ficou pensando. Fiquei pensando também. Parece simples, talvez seja mesmo simples. Mas não é fácil.