Tenho um motivo especial para torcer pela Seleção Brasileira nesta Copa. É um motivo que pesa cerca de 30 quilos, usa óculos e está sempre sorrindo. Um menino que nasceu 10 anos atrás e que, não faz muito, descobriu o encanto do futebol. Estou torcendo como nunca pelo time do Tite, porque não quero que meu filho se desiluda com o Brasil. Alguém dirá que, no futebol, a derrota também é importante, já que ensina a perder. É verdade.
A vida é mesmo feita de perdas.
A vida é como o trabalho de editor de jornal: você escolhe algumas coisas em detrimento de outras. Quer dizer: sempre haverá uma renúncia, sempre haverá uma despedida, sempre haverá algo que você deixou para trás.
O futebol é assim. Você perde e segue em frente. Logo em seguida, haverá outro jogo. Agora mesmo, meninos portugueses estão chorando, e meninos uruguaios estão comemorando.
Os que choram sabem que a derrota faz parte do jogo. E os que comemoram sabem que podem chorar ali adiante. Ou seja: não é nenhum drama ser derrotado.
Mas esta Copa é diferente, no caso deste menino. Porque ele não estuda no Brasil; estuda nos Estados Unidos. Ele é o único brasileiro da aula, o único que, nos últimos dias do ano letivo, em junho passado, foi vestido com a camisa amarela da Seleção.
Neste momento, ele e seus colegas americanos ou estrangeiros não estão se encontrando – é o recesso de verão no Hemisfério Norte. Mas, depois das férias, sei bem como ele gostaria de ir à aula: dentro daquela camisa canarinho com o 10 às costas, o número que foi de Pelé e de Rivellino.
E que hoje é de Neymar. Sei que ele vai chegar à escola sorrindo, como sempre, mas talvez pisando mais firme, talvez sentindo um pouco de orgulho, talvez repetindo para si mesmo, secretamente, em pensamento: "Eu sou brasileiro. Eu sou campeão do mundo".
ELE BOTA MEDO
Vi o medo ensombrecendo o rosto de Rukovina, o jogador número 2 da Sérvia, que estava designado para marcar Neymar na última partida do Brasil. Não por acaso. No primeiro minuto de jogo, Neymar já meteu uma janelinha num adversário. Rukovina deve ter estremecido.
Eu estava bem próximo do setor do campo em que o atacante da Seleção corria, uns cinco metros de distância. Via claramente como Rukovina pedia ajuda para os companheiros, como ele se afligia quando Neymar tocava na bola. Mais tarde, no lance em que Neymar deu uma dominada de letra, bem em cima da linha lateral, tenho a impressão de que Rukovina suspirou.
Esse também é o papel do camisa 10, no time do Brasil: fazer com que os inimigos sofram por antecipação. Com um jogador como Neymar, o Brasil já larga em vantagem.
A PRAIA DE SAMARA
Samara tem uma praia de água doce. Fica engastada numa pequena curva do Rio Volga.
As praias do Guaíba são mais bonitas, muito mais bonitas, mas essa prainha é muito melhor.
Para você chegar até a areia, precisa descer vários lances de largas escadarias: a cidade está em cima; a praia, bem embaixo. Entre as escadarias, há um enorme mirante em forma de proa de navio viking. Se você quiser admirar a praia com sua amada, irá se sentir como Leonardo DiCaprio e Kate Winslet em Titanic. Vá lá e grite: “Eu sou o rei do mundo!”.
Há também uma bela fonte com chafarizes e um passeio onde foram plantados quiosques de madeira, canteiros de flores e monumentos de pedra.
Chegando, finalmente, à areia, você irá se surpreender: há bancos de madeira, pequenos biombos para quem quer trocar de roupa, guarda-sóis para dar sombra, goleiras para jogar bola e parquinhos para que as crianças brinquem. Um salva-vidas observa o movimento do alto de uma guarita. É tudo limpo, limpo. E organizado. Ninguém arranca as flores dos canteiros, ninguém picha os bancos e os biombos e, sobretudo, ninguém suja a praia. O lixo está onde deve estar: no lixo.
A pequena praia de Samara me deixou admirado pela boa educação e pelo respeito que os russos têm por sua cidade. E um pouco triste ao lembrar que o mesmo não acontece no Brasil. O Brasil é tão pior do que tantos países do mundo. E poderia ser tão melhor.