Juan Carlos Osorio nunca desistiu do futebol. Por isso, ele estará no final da manhã desta segunda-feira (2) em Samara à beira do campo, dando ordens para um México inteiro contra o Brasil. O futebol até desistiu do colombiano de 57 anos. Traiu-o com lesões em sequência no joelho até fazê-lo parar. Aos 24 anos, o volante estava aposentado.
O caminho foi os EUA, onde viveu por 20 anos. O avô bancou a viagem para os Estados Unidos. A justificativa era estudar o inglês. No horizonte, é claro, estava a bola. Em um primeiro momento, para se manter, Osorio trabalhou como pedreiro e garçom. Precisava segurar as pontas para perseguir o sonho de fazer uma faculdade. Voltada ao futebol.
O ingresso no curso de Ciências do Exercício Físico e Rendimento Humano na Universidad de Connecticut resolveu dois problemas de uma só vez. Legalizou-o no país e recolocou-o de volta perto do futebol. Diplomado, passou a buscar emprego. Que demorou a vir. Para sustentar a família, comprou um kit de futebol: goleira, marcações, bola, cones. Colocava tudo dentro de uma caminhoneta, o único bem que tinha, e saía por Nova York a dar aulas de futebol. Estacionava em parques públicos, montava o campo e esperava os alunos.
Osorio, como disse, nunca desistiu. Logo veio a primeira chance nos EUA, no Staten Island, clube dos arredores de Nova York e que joga uma liga secundária. Mas o colombiano queria mais. Foi aprovado em um mestrado na Universidad de Liverpool. Bateu na porta do principal clube da cidade. Queria ver de perto como treinavam, o que faziam. O Liverpool bateu a porta na sua cara. Mas Osorio não desiste. Certo dia, viu que o prédio vizinho ao CT oferecia vista. Bateu na porta. Um casal típico inglês atendeu. Ele pediu uma escada e a sacada para olhar sobre o muro. Ganhou mais. A amizade e a confiança deles.
Estudante, sabe como é, tem bolso curto. Sem dinheiro para entrar nos estádios ingleses, Osorio se acomodava diante da TV em pubs. Pedia uma água mineral com gás e anotava tudo em seus famosos caderninhos, os mesmos que leva para a beira do campo.
A sua vida começou a mudar de rumo em 2001. Kevin Keegan, grande astro inglês dos anos 1970 e 1980, o indicou para o Manchester City. Começou como preparador e acabou como auxiliar. Em 2006, desembarcou de volta na Colômbia. O estudante pobretão agora era técnico. Primeiro no Millonarios, seu clube do coração. Retornou aos EUA, para comandar o Chicago Fire e o NY Red Bulls. De novo na Colômbia, foi campeão no Once Caldas e tri no Nacional-COL. O resto da história, você já sabe. São Paulo e, depois, o México.
Osorio e sua seleção estão hospedados aqui no Renaissance Hotel, o mesmo da RBS. Na noite deste domingo (1°), a menos de 24 horas do jogo, transitava sem estrelismos pelo saguão. Abordei-o para uma rápida conversa. Queria saber de uma passagem pelo Inter, que consta em alguns de seus perfis.
— Ao Inter, não. Mas fui a Gramado, visitar o Marcelo Bielsa e conversar com ele sobre futebol — me disse.
Osorio é um estudioso. Busca todas as informações e ouve todos. Depois aplica em seus times. Seu método demorou a ser conhecido. Mas, como já disse antes, ele não desiste. Nunca desistiu. Abre o olho, Tite.