Ouço aplausos e ovações àquela madame que constrangeu o senador Romero Jucá em um avião, dias atrás.
Virou moda.
Funciona assim: você, como todo mundo, tem um celular. Aí você enxerga alguém de quem discorda. Pode ser qualquer um, isso já aconteceu com o Chico Buarque, o Mantega, o Lula, o Alexandre Garcia, uma filósofa feminista que visitou o Brasil há algumas semanas, jogadores e técnicos de futebol, poderia acontecer até com alguns que já morreram, como o Brizola ou o dom Vicente Scherer. Você é quem decide, basta escolher um canalha preferido.
O passo seguinte é ligar a câmera do celular, ir até a pessoa e insultá-la. Pode fazer sem medo. Você estará protegido pelo seu próprio anonimato. Você é "o povo", um cidadão brasileiro que enfim está reagindo a tantos desmandos, tanta corrupção e tanta exploração. Alguém pode dizer "Opa, mas o Caetano Veloso não fez nada para merecer isso!". Essa é a opinião desse alguém. Não importa. O que importa é a SUA opinião, você é quem decide. E o lindo é que você pode fazer o que bem entender aí com esse seu celular, porque, seja lá o que acontecer, quem tem algo a perder é a sua vítima, não você. Ela é a pessoa pública, ela é quem tem de zelar por sua imagem. Você, não. Que jornal ou TV ou rádio ou site vai se interessar em publicar "João Carlos promove barraco em avião"? Nenhum. Pode ir lá, faça bastante escândalo, provoque a pessoa. Se ela reagir, tanto melhor, será a consagração.
As pessoas confundem bravura com despudor, desassombro com petulância. Assim, mesmo que você não corra risco algum, vai passar por corajoso.
Há outro ponto positivo: as pessoas confundem bravura com despudor, desassombro com petulância. Assim, mesmo que você não corra risco algum, vai passar por corajoso.
Claro, isso pode acontecer com alguém de quem você gosta, dia desses. Mas é um preço pequeno a pagar. Você já virou celebridade nas redes. Por pouco tempo, verdade, essas coisas não duram muito, mas... vá que apareça outro "cafajeste famoso" no seu caminho. Então, empunhe seu celular. Faça justiça. Você é o nosso herói.
A revolução do celular
O celular com internet produziu uma revolução equivalente à invenção da imprensa por Gutenberg, há mais de cinco séculos. Estamos no meio desta revolução, ainda não sabemos o que sairá disso tudo, mas o certo é que o mundo já mudou.
No século 15, as mudanças pareciam (e eram) mais lentas, só que a novidade dos tipos móveis foi tão espetacular, que gerou uma nova era em pouquíssimo tempo: foi graças à imprensa que Lutero pôde liderar com sucesso a reforma protestante, em 1517.
Tudo o que é novo traz coisas boas e coisas ruins. Entre as boas está a possibilidade de o homem comum, anônimo, insignificante usar as redes para manifestar o que pensa. Entre as ruins está a possibilidade de o homem comum, anônimo, insignificante usar as redes para manifestar o que pensa.