Estava olhando o vídeo da menina que falou na tribuna da Assembleia do Paraná. Eis um tema que desperta ódios inevitáveis, seja lá o que você disser. Normal, o Brasil está sensível porque está mudando, e toda mudança dói. Como escrevi ontem, acredito que essa mudança será de natureza taoista. Isto é, feita pelo caminho do meio.
É por essa estrada que sigo para analisar o episódio da menina na Assembleia. Porque há várias formas de abordar o que aconteceu. Todas podem ser de aprovação. E todas podem ser de reprovação.
Se você tomar o conteúdo do discurso, ela está rotundamente equivocada. Não há como o Brasil sair da situação em que se encontra sem sofrimento. Quem diz o contrário é demagogo. Não precisa ser economista para entender isso, basta ter que manter uma casa em funcionamento. Portanto, se não fosse a PEC 241, seria algo parecido.
Outro ponto que a menina abordou é a reforma do ensino secundarista. Também não é caso para gritaria. Trata-se de uma reforma inócua. Nem sequer roça nos verdadeiros problemas da educação brasileira. Enquanto não houver boas escolas e bons professores, os governantes podem tirar ou acrescentar qualquer disciplina, de artes a matemática: não fará diferença.
Na essência, porém, a menina está certa. O Brasil clama por uma rebelião em nome da escola pública. Porque o drama da educação brasileira não está no dinheiro. Está, sim, na vontade política.
Em primeiro lugar, por complexas questões tributárias e federativas, reformas que deviam ter sido feitas há décadas, que poderiam ter sido feitas, e não foram.
Em segundo lugar, devido às prioridades dos governos.
Não faz muito, sediamos uma bela Copa do Mundo, a qual, inclusive, apoiei. Mas não como foi feita. A Fifa sugeriu que o Brasil realizasse a competição em oito estádios. Lula insistiu para que fosse em 12, obviamente para fazer sua conhecida politicagem eleitoreira. Assim, foram levantados estádios em Manaus, Cuiabá, Natal e Brasília, onde praticamente não há futebol.
O de Brasília é o segundo estádio mais caro do mundo, só perdendo para o de Wembley. Na época, custou quase US$ 1 bilhão. Segundo os cálculos dos economistas, o governo vai levar 1.167 anos para recuperar o investimento, se fizer tudo certo. Os brasilienses do ano 3183 ficarão felizes.
Antes da Copa, travei uma discussão acerca disso com o ministro dos Esportes, o comunista Aldo Rebelo, aquele que queria tirar os computadores do serviço público a fim de aumentar o número de pessoas empregadas. A conversa se deu em meio ao Sala de Redação. Eu disse que era um escândalo o governo colocar dinheiro naqueles quatro estádios. Ele ficou furioso. Argumentou que na Copa da Alemanha também foram 12 sedes. Quando ouvi aquilo me deu um cansaço na hora, um desânimo da existência, uma vontade de ir para casa dormir.
Vou contar uma história sobre o Brasil e a Alemanha que ilustra bem o que quero dizer. Mas, antes, tenho de dar uma informação: a escola em que meu filho estuda está sendo reformada. É uma escola pública de primeiro grau. A reforma, toda bancada pela cidade, custará US$ 98 milhões, aproximadamente R$ 330 milhões, mais ou menos o valor da reforma do Beira-Rio. Bem. No ano passado, Boston havia sido escolhida para ser a sede da Olimpíada de 2024, se a competição ocorrer nos Estados Unidos. Havia promessa de que todos os investimentos seriam feitos pela iniciativa privada. Mas os cidadãos se reuniram e disseram não à Olimpíada. Disseram, em bom inglês, que preferem investir em escola.
Questão de prioridades. Conto mais amanhã.