Você já viu um gato brigando com uma cobra? Ficam os dois parados, estudando-se, a cobra erguida, pronta para o ataque, o gato estático, sem nem respirar e de repente... Zip! Zip!, com dois golpes, o gato fura os dois olhos da cobra. Agora ele só vai brincar com ela, até o fim.
Na noite desta terça-feira, no Pavilhão 6 do Riocentro, o baiano Robson Conceição foi o gato e o francês Sofiane Oumiha, a cobra. Robson estava felinamente alerta desde o começo do combate, enquanto o francês parecia intimidado pela torcida. Não sem certa razão: desde antes do confronto, o público gritava o nome de Róbson e batia com os pés no chão das arquibancadas, fazendo um som de tempestade e fúria. Quando Robson entrou no ringue, foi uma ovação.
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– Conceição! Conceição!
– Brasil! Brasil!
– Ôôôô, o campeão chegou! O campeão chegou! O campeão chegooooou!
E, na vez do adversário, bem dentro do espírito olímpico:
– Uh! Vai morrer! Uh! Vai morrer!
Robson, que é terceiro-sargento da Marinha, mandou um Exocet no rosto do francês logo no começo da luta. O outro ficou meio perplexo. E foi então que Robson deu os dois manotaços de gato, um com a esquerda, outro com a direita: Zip! Zip!
O público sentiu que viria a vitória. Cantava:
– Um, dois, três! Porrada no francês!
Os três juízes deram vitória a Robson no primeiro round por 10 a 9. No segundo, ele não recuou. Manteve-se no centro do ringue, usou a cintura para se esquivar dos golpes do francês e, quando a guarda do adversário abria, Zip!, outra patada. De novo, a vitória foi por 10 a 9. No terceiro, Robson poderia só se defender, mas ele não diminuiu o ritmo. Nos últimos cinco segundos, a torcida, confiante na vitória, contou:
– Cinco... quatro... três... dois... um... eeeeeeeeeee!
Vitória por unanimidade.
Ninguém saiu do ginásio, até Robson subir no ponto mais alto do pódio, benzer-se, apontar o indicador para o alto, fazer um coração com as mãos e morder a medalha de ouro. Ao final do Hino, ele prestou continência à bandeira.
Ainda no ginásio, Robson recebeu o cumprimento de Carlos Nuzmann, presidente do COB e do Comitê Organizador da Olimpíada. O baianinho, agora, era um homem importante. Logo ele, que, no começo da carreira, dormiu debaixo de uma arquibancada na Bahia. Enrolado na bandeira brasileira, Robson foi à entrevista coletiva. Os voluntários queriam tirar selfies com ele, os soldados da Força Nacional queriam tirar selfies com ele, os repórteres queriam saber da sua vida. Um perguntou qual o segredo da sua conquista. Ele:
– Não desanimar. Perdi as minhas dez primeiras lutas. Dez! Uma depois da outra. E não desanimei.
Cumprindo o slogan aquele, eis um brasileiro que não desiste nunca.
*ZHESPORTES