Nesta quarta-feira, dia 16 de outubro, fez um ano que encontrei o papa Francisco pessoalmente. Foi a primeira viagem que fiz depois de enfrentar um câncer na cabeça.
O encontro não estava marcado como compromisso para ele. A visita se deu graças ao padre porto-alegrense Antonio Hofmeister, que mora no Vaticano.
Eu o conheci em março de 2013, quando, pela Rádio Gaúcha, fiz a cobertura jornalística da escolha do novo Papa. Como os cardeais não concedem entrevistas antes do Conclave, procurei o padre Antonio que, na época, era o motorista dos cardeais brasileiros. Ele me contou várias coisas relacionadas aos comentários que os cardeais faziam, mas nada relativo à escolha do Papa.
Depois de deixar Roma, acabei desenvolvendo uma amizade com o padre. Durante 10 anos, trocamos mensagens semanalmente. Mesmo durante o tratamento para combater o câncer, não deixamos de nos comunicar.
No início do ano passado, eu o avisei que a primeira viagem que faria depois de enfrentar a batalha pela vida seria para Roma. Ele, então, pediu que eu passasse o número do meu passaporte para marcar um encontro pessoal com o Papa.
Mesmo sem a garantia do encontro, viajei para Roma no sábado, dia 14 de outubro de 2023. Dois dias depois, almoçamos no Vaticano e o padre Antonio me levou para visitar locais onde turistas não têm acesso, como o Palácio Apostólico — o prédio onde o Papa reza, aos domingos, a missa do Ângelus e cuja janela fica à frente da histórica Praça São Pedro.
À noite, fomos jantar no refeitório da Casa de Santa Marta, prédio onde o Papa mora e faz suas refeições. No meio do jantar — massa, feijão e salada —, o Papa, seguido por um séquito de assessores, entrou no restaurante.
Fiquei tão nervoso que não consegui mais comer. O padre Antonio pediu, então, que nos levantássemos discretamente para ir ao lado de fora para abordar o Papa quando ele saísse.
Terminada a refeição, o Papa e seu séquito irromperam pela porta. Confesso, fazia muitos anos que eu não ficava tão ansioso.
Nos aproximamos, e o padre Antonio disse ao Papa que era um jornalista de Porto Alegre e que tinha enfrentado um câncer na cabeça. O Papa me abençoou e disse: "Coma bastante polenta".
Em troca, agradeci e lhe dei de presente um pacote de erva-mate e um panfleto com fotos de Porto Alegre.
Falando português, me disse que já havia estado na Capital e gostava muito do Brasil. Aproveitei e o convidei a visitar nosso país.
Acho que não vai lembrar. Mas eu nunca esquecerei desse dia.