Jornalista não deve contar sua história. Era assim que eu costumava responder aos meus amigos que me incentivaram a escrever um livro. E acrescentava: talvez, quando eu me aposentar, vou pensar.
Aí, em 2021, durante um exame, descobri um câncer na cabeça. Quando o médico me ligou dando a notícia — a pior da minha vida —, eu perdi o chão. Fiquei tão abalado que, para continuar a falar, tive que sentar num sofá.
Na hora, minha cabeça ficou embaralhada, cheia de questionamentos. Minha primeira pergunta foi: quanto tempo vou precisar ficar fora? O médico respondeu: da minha parte, 15 dias.
Assim, tirei férias para fazer a cirurgia, achando que, em 30 dias, estaria recuperado. A cirurgia foi feita no dia 21 de julho de 2021 e o tratamento só terminou em maio de 2022.
Essa foi a primeira lição que aprendi: tu não tem mais o controle do tempo. Depois de atravessar a maior batalha da vida, me convenci que deveria superar a barreira do "jornalista não deve contar sua história".
Derrubado o meu muro de Berlim, decidi contar minha história. Ao longo do ano de 2023, escrevi meu primeiro livro, que, agora, acaba de ser publicado. Eu sabia que isso ajudaria muita gente, mas não tinha ideia do tamanho da influência que exerceria nos leitores. É mais uma forma de me sentir útil.
Como disse Ernest Hemingway: o homem pode ser destruído, mas nunca derrotado.