Desde que aprendeu a falar, o ser humano desenvolveu a capacidade de opinar. E isso é muito bom. Viver num mundo onde você pode manifestar sua opinião é melhor ainda. Em Cuba, tive uma entrevista com um casal interrompida em plena praça pública, às 15h, por oficiais da polícia política do governo.
Em 2002, durante uma aula do curso de mestrado em Jornalismo numa universidade britânica, perguntei a um colega chinês como tinha sido o Massacre da Praça da Paz Celestial. Para minha surpresa, ele não sabia o que havia acontecido. Eu, um brasileiro, tive que explicar ao chinês que houve um levante de estudantes e, como reação, o governo ditatorial os massacrou – até hoje não se sabe o número de mortos. Contei sobre a famosa imagem do estudante na frente dos tanques.
Como o colega não sabia nada, bastou dar um google para mostrar a foto. Obviamente, ele não sabia o que era o Google, censurado na China comunista. Perguntei se sabia o que foi a revolução cultural imposta por Mao Tsé-Tung na década de 1960. Nada. Ficou horrorizado quando disse que foi o expurgo dos opositores e da classe intelectual. A um outro colega, turco, perguntei como era ser jornalista num país que controla a mídia. Ele me contou suas agruras de fazer jornalismo num ambiente governado por políticos que veem a imprensa como inimiga.
Esses episódios que relatei são atos de censura. A ofensa e a manipulação são diferentes. Num país democrático – como não são China, Cuba e Turquia –, tu és livre para criticar. Mas a lei não permite usar uma informação falsa para acusar alguém. No Brasil, os artigos 138 e 139 do Código Penal preveem processo de calúnia e difamação.
Em Londres, visitando o Hyde Park, parei numa esquina em que um sujeito gritava defendendo uma teoria da conspiração. A primeira reação foi interromper a pessoa e expor meu ponto de vista. Alguém me impediu e disse que aquele era o lugar para as pessoas se manifestarem publicamente, o speaker’s corner. Se eu quisesse, teria que esperar a minha vez. Mas se preferisse não esperar, podia dar minha opinião numa rede social. Fui embora, esfriei a cabeça e não o fiz. Mas me sentiria à vontade para dar opinião com responsabilidade em um país democrático sem ofender alguém.