Enquanto o mundo se preocupa com redução do número de veículos de uso privado em circulação – pensando em fatores como clima ou os excessivos congestionamentos –, o Brasil incentiva a compra de mais carros. Ninguém duvida da exorbitância da tributação brasileira e da ineficiência na aplicação do dinheiro arrecadado. Mas estamos diante de um filme repetido e ultrapassado. O governo federal agora decidiu cortar impostos de determinados carros para tirar o peso sobre o preço final e incentivar o consumo.
Para Lula, alguns veículos estão caros demais. O populismo e o servilismo são mesmo evidentes aqui. Populismo porque passa a ideia de que a medida faz bem para os mais necessitados – o que não é verdade. Agrada a uma parte daqueles que não gostam de imposto. Servilismo porque se rende ao lobby da indústria automotiva, que defende mais benefícios para gerar consumo e criar empregos. Os fabricantes adoram essas medidas e sempre gritam contra qualquer decisão que possa oferecer algum risco para o setor. Quem grita alto, pode mais.
Ações como mais ciclovias e incentivo ao transporte público, que é caro e ineficiente, foram esquecidas mais uma vez. Os municípios brasileiros mal conseguem manter o sistema de transporte atual por conta dos custos. A população padece em ônibus caros e superlotados. Não surpreende o fato de muita gente migrar para outro tipo de transporte. É mais cômodo para o governo federal esquecer os reais problemas da população.
Reduzir impostos pontualmente escancara um outro problema: a desorganização tributária no país. Daí a necessidade de uma reforma tributária profunda. Mas Brasília não demonstra interesse em resolver problemas difíceis, embora superá-los seja necessário.
Assim caminha o governo, abrindo a guarda, escolhendo um caminho óbvio e ignorando as nossas reais dificuldades de cada dia. Talvez na próxima campanha eleitoral voltemos a ouvir propostas nobres e logo esquecidas, como incentivo a mais ciclovias e estímulo ao transporte público de passageiros.