A semente do racismo germina em torcidas de futebol pelo mundo. A famosa imagem do jogador do Manchester United, Eric Cantona, voando com os pés no peito de um torcedor na arquibancada do estádio Old Trafford é lembrada como um golpe no racismo. O discurso racista contra Cantona era por ele ser francês e alguns britânicos nutrem aversão a franceses desde Napoleão, derrotado pelo exército inglês em 1815.
O hooliganismo, o racismo e a violência física das torcidas de futebol na Inglaterra foram derrotados graças a ações da polícia, reação dos clubes (com expulsão de vândalos dos estádios) e muito controle. Mas o problema segue mundo afora. A Lazio, da Itália, leva o infame título de ter a “torcida mais fascista do mundo”. Há racismo nos estádios do Brasil. E torcedores de países como Argentina e Uruguai nos chamam pejorativamente de “macaquitos”.
Na Espanha, alguns torcedores ignoram um passado racista e violento. O explorador espanhol Francisco Pizarro devastou o Peru, matou milhares, escravizou e dominou o povo Inca. Outro espanhol estava por trás de tudo: Hernando Cortés, que tomou México, Cuba e outros países. Quando percebeu que ouro não dava em árvore, Cortés colocou a tropa espanhola a trabalhar de forma sádica: conquistar território e matar. No México está bem explicado o que ele fez com Montezuma. A Inquisição foi concebida pela pena de um espanhol, Tomás de Torquemada. Ela, entre outras coisas, condenou Galileu Galilei por afirmar que planetas giram em torno do sol, contrariando a posição vigente do catolicismo. A Inglaterra construiu um império às custas de conquistas violentas. Alemanha, França, Itália e Portugal abusaram para colonizar povos. Eu poderia ir longe lembrando a violência que nações promoveram na História e sobre a qual deveriam sentir vergonha.
É, em parte, esta História que inspira atos de racismo no futebol. No caso do jogador Vinícius Júnior, cujo episódio mais recente ocorreu no domingo retrasado, um dos aspectos que mais revoltam é que muitos atos vêm da própria torcida do Real Madrid, time para o qual ele joga e empilha gols, aquilo que esperamos que faça.
Os péssimos exemplos de vilania dos antepassados deveriam servir como freio para torcedores minimamente intelectualizados, mas acabam sendo um estímulo. Na Espanha e em outros países.