Esta é uma história sem mocinhos, mas com muitos vilões. A poeira baixou, mas os ecos do episódio da Agrishow - uma espécie de Expointer - em São Paulo ainda são ouvidos. O que aconteceu em Ribeirão Preto é exemplo de como não fazer, por parte do governo federal e da organização do evento. Começa com o “desconvite” para o ministro da Agricultura, cuja presença deixou de ser importante para os participantes, que queriam ver o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele estaria presente e ocuparia o palanque político. Só quem não conhece a feira ignora a identificação do público com o ex-presidente. Então, o atual ministro da Agricultura foi convidado a não comparecer mais à cerimônia. Os organizadores perderam uma grande chance de mostrar pluralidade.
O caso poderia ter parado por aí. Mas o presidente Lula resolveu se vingar usando um banco público como instrumento político. Sinalizou a retirada do Banco do Brasil do evento. Tão óbvio quanto vai faltar água em Bagé, o banco público não é do presidente. A Agrishow movimentou R$ 13 bilhões, incluindo negócios e intenções de compra. Cerca de R$ 1,5 bilhão das operações de crédito efetuadas, mais da metade do volume fechado na feira, foi registrada pelo Banco do Brasil, que, ainda bem, decidiu ficar no evento, do qual participa desde o início da década de 1990.
E, quando parecia que as coisas estavam se resolvendo publicamente, Lula joga mais lenha na fogueira ao chamar os organizadores da Agrishow de "fascistas" Será que Lula sabe o que foi o fascismo, que nasceu na Itália? Ele tem todo o direito de não gostar do evento, mas o presidente da República precisa tentar unir e não dividir ainda mais com provocações dignas de redes sociais.
O Brasil está saturado da polarização política, ainda mais depois da última eleição. Lula parece não ter aprendido com os próprios erros do passado. No primeiro mandato, em 2004, tentou expulsar do país um jornalista estrangeiro por causa de uma reportagem da qual não gostou. Em 2010, pregou o fim de um partido simplesmente por discordar da opinião dos seus integrantes.
O governante do país tem, entre outras missões, pacificar o Brasil, somos uma nação diversificada e não aguentamos mais divisões entre nós e eles. Em agosto de 2008, o próprio Lula afirmou: "O Lula é o presidente de todo ser humano". Bonita frase, mas não basta dizer, precisa ser. E sem pendores autoritários.