Não se faz obra em pouco tempo. Ainda mais sob a burocracia estatal. Tampouco se faz uma reforma em poucos dias, quem dirá do dia para a noite. Logo, o ensinamento é claro: não se promete o que não se pode entregar no prazo assumido. Este foi o erro do governador Eduardo Leite, calejado em administração pública. No seu programa de governo apresentado à Justiça Eleitoral para a disputa do governo estadual, no ano passado, a educação aparece como prioridade número um.
Vendo de fora e com base no programa de governo e no que foi dito, a volta às aulas na rede estadual seria totalmente diferente em 2023, na comparação com anos anteriores. Não foi para alunos, professores e funcionários de pelo menos 170 escolas estaduais. O universo de escolas é bem maior, mais de 2 mil. O próprio governo constatou deficiências estruturais em 1,9 mil colégios e determinou a alocação de R$ 30 milhões, verba sempre bem-vinda. Mas as obras serão agora, no momento em que a comunidade escolar está reocupando os colégios para um novo ano letivo?
As deficiências são velhas conhecidas: falta de luz, classes e cadeiras aos pedaços, pátio sem telhado, goteiras no teto. A despeito disso, o governador prometeu vida nova nos colégios, o que não aconteceu, frustrando muita gente. Imagine você chegar para a aula e não ter luz na sala?
Numa cidade impecável do Interior, Vale Real, no Vale do Caí, a situação da escola estadual Bernardo Petry contrasta com a realidade do município. Lá, os professores cansaram de esperar as obras para a retomada da energia elétrica, que começaram em 2020. Luz, algo elementar na rotina de aula. Juntaram dinheiro com a comunidade para finalizar os trabalhos. Até o lanche foi prejudicado. O chão é de piso bruto; alunos, professores e funcionários precisam conviver com a poeira. São 400 alunos, ao todo, nos três turnos. Ainda bem que, numa cidade menor e disposta a ajudar, a comunidade se mobilizou para acelerar as obras.
A promessa feita pela chapa Leite/Gabriel é transformar a educação pública gaúcha em referência nacional. Porém, a volta às aulas, para muitos, está sendo frustrante. Que tipo de estudante da escola pública estamos preparando para o futuro? Muito diferente daqueles de escolas privadas. O segundo governo recém começou, ainda dá tempo de zerar esta conta, apesar de alguma precipitação na largada.