Fui usuário de cadeira de rodas, agora utilizo andador para auxiliar na locomoção e, em breve, usarei uma bengala para me equilibrar. Ou seja, minha incapacidade é transitória e temporária. Meus dias como PCD (pessoa com deficiência) estão contados. Então, não escrevo em causa própria.
Escrevo porque passei por essa situação e pelas milhares de pessoas que precisam de condições melhores nas ruas e prédios de Porto Alegre, como as minhas três colegas Michele, Cris e a Camila.
Michele usa cadeira de rodas, Cris e Camila são cegas e dependem de uma bengala para identificar barreiras à frente. Isso as diferencia dos demais? Nada, se locomovem, estudam, frequentam eventos e fazem tudo normalmente. Me comovo com a força de vontade das três gurias. Porto Alegre não é uma cidade boa para essas pessoas. Não falo só do poder público, mas dos proprietários de calçadas também.
Em geral, os porto-alegrenses são cordiais conosco: dão a frente, prioridade na passagem, compreendem as dificuldades. Mas a cidade não é boa para a PCD. Normalmente, as pedras das calçadas são quebradas, desniveladas ou soltas. Quase impossível fazer qualquer deslocamento.
Mesmo sendo uma cidade relativamente plana, Porto Alegre não consegue oferecer um pouco de acessibilidade. Muita coisa mudou, os prédios novos estão mais acessíveis, mas os mais antigos carecem de estrutura mínima.
Um exemplo é o edifício onde fica o INSS na Avenida Bento Gonçalves, justamente o que deveria ser referência em acessibilidade. Eu mesmo tive que ir quatro vezes ao prédio, onde, aliás, encontrei funcionários e servidores extremamente prestativos, que contrastavam com a sisudez daquele local.
O prédio é antigo, não precisa subir degrau, mas do portão até o atendimento é necessário transpor uma rampa com piso que não é liso, o que tranca a cadeira ou o andador, mais uma planície e, até chegar à porta, uma longa rampa que, em dias de chuva, é uma armadilha para a PCD. Ainda não terminou. Depois, tem um longo caminho a ser percorrido dentro da agência. O longo caminho é recompensado pelo atendimento. Mas e os que têm dificuldades maiores para vencer o caminho?
A Michele, repórter do Diário Gaúcho, testou o centro da Capital. Tivemos a mesma impressão. As pedrinhas da Praça da Matriz são bem bonitinhas, mas péssimas para quem tem dificuldades. Ainda bem que o Theatro São Pedro dispõe de elevador. A Orla nova tem piso tátil, degraus, tudo pensado para os visitantes, inclusive para quem precisa de acessibilidade.
O exemplo mais emocionante é o das “cadeiras anfíbias” desenvolvidas pela Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e com Altas Habilidades no Rio Grande do Sul (Faders). São cadeiras especiais que levam pessoas com deficiência para tomar banho de mar no nosso litoral. Dezesseis prefeituras formalizaram convênio com a Faders. Torço para que inspirem mais gente.