Luiz Inácio Lula da Silva foi forjado no poder. Primeiro, como presidente de sindicato dos metalúrgicos e, depois, na Presidência da República por duas vezes. Concorde-se ou não, o presidente sabe qual será a repercussão de suas declarações.
Lula escolheu o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, para saco de pancada. O que Lula pretende é atingir o Comitê de Política Monetária (Copom). É o Copom que define a taxa Selic, o juro básico da economia, atualmente em 13,75% ao ano. Alta. Todos querem uma taxa menor, mas cortar a Selic sem critério significa risco de descontrole da inflação, um fantasma para o brasileiro. Não se corta a taxa no grito.
O presidente não fala de inopino, ele calcula as palavras. As críticas mais atuais têm endereço certo. Agora, Lula acerta dois objetivos. Primeiro, a militância petista, que aplaude qualquer movimento lulista, principalmente se atacar o mercado financeiro, que a esquerda elegeu como inimigo e a quem atribui os problemas econômicos do país.
O outro motivo é o mais importante: o Banco Central poderá servir como uma espécie de bode expiatório para justificar eventuais dissabores de Lula. Por exemplo, se algo for mal na economia, a “culpa” será dirigida ao BC. “O Banco Central me impediu!”, ele dirá.
Trocando em miúdos: Lula quer transferir desde já a culpa por eventual fracasso para a entidade financeira. Ele estaria criando uma espécie de “vacina” para um possível insucesso.
Os brasileiros viveram isso num passado recente. Para se esquivar das responsabilidades da covid-19, Jair Bolsonaro alegava que estava impedido de agir por causa de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Balela de quem não consegue governar na crise. O STF deu aos municípios e Estados a primazia para as decisões, mas de forma alguma impedia o presidente de tomar a dianteira da crise. Os brasileiros ficaram à deriva de ações de Brasília num momento chave da História.
O Banco Central não é afeito a se imiscuir em brigas políticas. É a casa dos maiores economistas do país, que não estão blindados de críticas, mas não de natureza política. O BC abrigou figuras como Pérsio Árida e Gustavo Franco. Os atuais integrantes do BC não iriam enxovalhar o nome da instituição por uma queda de braço política.