Na primeira reunião de 2023, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu não alterar a taxa de juro básico do país. Com isso, a Selic segue em 13,75% ao ano. Essa é a quarta manutenção seguida da taxa. A última alta foi promovida em agosto do ano passado, quando o comitê realizou aumento de 0,5 ponto percentual.
No comunicado que acompanha o anúncio, o Copom destaca a inflação distante da meta e a questão fiscal do país. Nesse sentido, elenca a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal e estímulos fiscais, além da persistência das pressões inflacionárias globais entre os fatores de risco de alta da inflação.
“A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária”, informa trecho da nota.
O Copom também destaca que “segue vigilante” e não fecha a porta para novas elevações da Selic em um cenário onde o recuo da alta de preços não ocorra dentro do previsto: “O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
A decisão do Copom, a primeira no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, ocorre em um momento de pressões divergentes sobre o colegiado. De um lado, aumento das expectativas de inflação pesam na decisão mais conservadora, de seguir com o juro em patamar elevado. De outro, as críticas do presidente e de seus ministros ao patamar elevado da Selic pressionam pelo início de cortes na taxa básica de juros, que baliza empréstimos, financiamentos e pauta decisões sobre transações e investimentos.
O encontro do Copom também é histórico, porque marca a primeira reunião comandada por um presidente do BC que não foi escolhido pelo presidente da República em atuação.
Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor de estudos e pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirma que a postura conservadora do Copom ocorre diante dos últimos sinais no âmbito da inflação:
— A inflação, que inicialmente se imaginava que viesse menos pressionada, apresentou resistência nos últimos meses do ano passado, principalmente no grupo de alimentação. Além disso, tem a incerteza sobre a questão fiscal do país e o fator externo. Tudo isso leva o Banco Central a ser mais conservador.
Oliveira não vê espaço para redução da Selic pelo menos até maio. O diretor afirma que o BC não quer mandar um recado errado ao mercado com corte precipitado neste momento e nova alta em um futuro próximo diante de uma inflação que não cede.
Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, afirma que existe uma expectativa de recuo na Selic na segunda metade do ano diante de desaceleração econômica interna e externa. No entanto, incertezas sobre novo arcabouço fiscal, que deve ser anunciado pelo governo federal em abril, e comportamento da economia colocam um asterisco nessa projeção, segundo o economista:
— Existe um risco de isso não acontecer a depender de como a economia vai se comportar nos próximos meses. Tem que observar a Inflação, o crescimento econômico e, principalmente, a questão fiscal.
Super quarta
Nesta quarta-feira (1º), também ocorreu o que o mercado chama de "super quarta", quando o BC e Federal Reserve (Fed) anunciam suas decisões sobre taxa de juros no mesmo dia. O banco central americano elevou suas taxas básicas de juros em 0,25 ponto percentual. O Fed também anunciou que prevê novos aumentos depois dessa oitava alta consecutiva em um contexto de uma inflação que desacelera, "mas continua alta".