Eu não costumo defender aquilo que não conheço pessoalmente — e bem. Por isso, me sinto à vontade para defender a urna eletrônica porque a conheci na eleição de 1996, e até hoje nunca houve nenhuma denúncia de fraude levada adiante e confirmada. Conheço as pessoas que conceberam a urna: são sérias, comprometidas com eleições.
Até 2016, eu evitava falar de Cuba, simplesmente porque não a conhecia. Fui lá em 2016, e puder ver, de perto, a repressão em estado puro. Agora, me sinto mais confortável para criticar abertamente aquilo que vi: uma ditadura que oprime e que acossa o cubano, que vive bem longe das liberdades. Ao cubano, nada é permitido. Os poucos que ainda tentam defender aquilo arranjando alguma justificativa, é por idealismo cego ou ideologia.
Alguns dizem: "ah, mas pra que liberdade se todos têm saúde?" Aqui, no Brasil, também temos saúde para todos. Ou deveríamos. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem problema de gerenciamento, não de falta de cobertura. E quer atitude mais tacanha e ditatorial do que proibir uma pessoa a dizer na rua o que ela pensa? Tentei entrevistar uma família nas ruas de Havana e não consegui porque a polícia secreta não permitia.
É bom que se diga: a urna eletrônica não é um assunto prioritário do brasileiro nestas eleições. Ele sabe que ela funciona. Mas não é verdade que só o Brasil adota a urna. Ninguém me contou, eu vi. Nos Estados Unidos, onde há vários tipos de votação, inclusive com cédula de papel, a urna eletrônica vem sendo usada em alguns dos 50 Estados. Na Inglaterra, vi a urna eletrônica funcionar muito bem em alguns locais de votação.
Duvidar das urnas ou dizer que existe fraude e colocar a eleição em xeque é ignorar que todo o processo é fiscalizado, de perto, por mesários e dezenas de profissionais da área eleitoral. Se tiver alguma suspeita de violação de dados, leve para uma autoridade.
Aconteceu na eleição passada. Recebi pelo aplicativo de mensagem imagens de supostos flagrantes de fraude as urnas. A explicação era meio óbvia, beirava a infantilidade: o eleitor digitava o número de um determinado candidato para outro cargo que não o que ele estava disputando. Claro que dava erro. O número deve ser digitado na ordem correta.
Em nome da pluralidade, fui ouvir os argumentos de quem questiona a urna. O contorcionismo para tentar justificar a violabilidade do processo foi grande. Um dos argumentos, depois de esgotados os aspectos de tecnologia, é que o voto não seria "auditável". Mas basta esperar o fim da votação e a impressão dos boletins de urna. Ali vai aparecer quantos votos fez cada candidato ou candidata.
Deixem a urna em paz e disputem e eleição, como o eleitor espera. Não vai emplacar o discurso de derrota.