Em 2013, quando os black blocks se destacavam em meio aos protestos que tomaram as ruas do país, o delegado da Polícia Civil, Marco Duarte de Souza, liderou uma força-tarefa de agentes para investigar a atuação do grupo que promovia depredação de prédios, incêndios e pancadaria em Porto Alegre. Durante mais de um ano, os policiais seguiram os passos dos principais integrantes do grupo para entender as motivações, técnicas e método de organização. A investigação resultou no indiciamento de sete pessoas por organização criminosa e dano ao patrimônio.
Com a experiência de quem conhece a fundo as bandeiras, os símbolos e a forma de atuação, o delegado afirma com ênfase: o Antifas, grupo que ressurgiu no rastro de protestos recentes pelo país nada mais é do que o black block anarquista que se vale de ideais aparentemente legítimos para promover depredações e conflitos. Bandeiras do movimento Antifas já apareceram na Capital.
O que é Antifas?
É antifascismo. Um grupo que se posiciona contra o que, segundo a interpretação deles, seria fascismo. Mas eles alargam o conceito de fascismo, embora se posicionem também contra regimes autoritários.
Qual é a relação da Antifas com os blackblocks?
Total. Os black blocks não são um grupo rígido. É muito mais vinculado a uma tática, uma forma de atuação. E comunga muito com a Antifa. Por vezes, trocam de nome. Antifa é uma marca internacional. As táticas eram usadas aqui no Brasil antes mesmo deles se denominarem black blocks. Na verdade, o que aconteceu foi que a típica tática black blocks apareceu, no início, em protestos em Seattle (EUA). Parte da imprensa especializada e as polícias identificaram essas táticas como black blocks. A mesma coisa os Antifas. Eles têm uma pauta pré-estabelecida vinculada a coisas anarquistas e, por vezes, nos aspectos extremos, neste caso extrema esquerda. É só um nome que eles utilizam, mas a tática é a mesma.
O senhor investigou esses grupos durante muito tempo. O que foi possível descobrir?
Aconteciam reuniões entre eles que tratavam especificamente sobre os alvos que eles iriam atacar. O que eles querem é a repercussão, querem se utilizar politicamente da depredação. Percebemos que o teatro montado era esse: eles partiam para desobediência civil, e essa desobediência é uma tática inicial. Depois, eles se voltam para pequenas depredações e saques. Em seguida, confrontos com a polícia que eram filmados por eles para fazer a explosão de tudo isso. É uma tática que dá certo para eles, pelo despreparo da própria polícia, a polícia em geral, não a gaúcha.
Quais são as táticas de atuação?
As mais comuns são aquelas em que eles aguardam uma concentração maior de pessoas e quando a manifestação se aproxima do ponto que eles consideram estratégico - prédios de grandes corporações, bancos, comércio mais conhecido - aí eles se preparam para efetuar as depredações, e algumas vezes saques. Durante as investigações, percebemos que eles se utilizam das comunidades pobres vendendo a ideia de que são revolucionários e comprando a adesão das pessoas com produto de saques. Aqui em Porto Alegre teve pagamento específico com produtos saqueados. É um teatro em que eles simulam que estão se manifestando de forma pacífica para forçar uma situação de confronto pois tudo isso faz parte de uma pauta política.
Eles misturam pautas legítimas para dar um ar de idealismo buscando o bem comum?
Sim. Muitas das pautas dos grupos e subgrupos são legítimas. São pautas bem elaboradas e racionais. O problema começa na forma de se manifestar, que normalmente é ilegítima e criminosa. Por vezes, as bandeiras que eles levantam têm a simpatia comum, de todos, mas acompanhando a forma de atuação deles, logo se vê que usam formas criminosas, posse de material incendiário e explosivo, depredações e lesão corporal. O importante é dizer que esse movimento não é novo. Se aproveita de momentos para ressurgir. E se alimenta da indignação do cidadão comum. É lamentável que isso aconteça porque acaba esvaziando movimentos que seriam bons para o próprio país. Nos protestos de 2013, muita gente acabou desistindo de ir às ruas porque não compactuava com aquilo que estava acontecendo como resultado final de depredação.