Soa como manobra diversionista o discurso do presidente Jair Bolsonaro de que houve fraude na eleição de 2018. Bolsonaro foi eleito de forma legítima no segundo turno, com quase 58 milhões de votos (55,13%).
A onda bolsonarista foi tão avassaladora que levou consigo os dois filhos — os dois parlamentares mais votados do país — e acabou elegendo uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados.
O impacto da candidatura de Bolsonaro foi tão grande que tirou do anonimato políticos que ninguém nunca tinha ouvido falar. Nos Estados, elegeu governadores desconhecidos. Tudo porque eram candidatos que levantaram a bandeira de Bolsonaro. Goste ou não, o presidente é o maior fenômeno eleitoral da história recente do país.
O processo de eleição no Brasil é modelo para o mundo. Alguém vai poder dizer: "Mas, se é tão bom, por que a Alemanha não adota?". Um presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul fez essa pergunta a uma autoridade alemã que veio conhecer o sistema brasileiro. A resposta é uma lição para todos nós: "Porque, na Alemanha, ainda não precisamos evoluir para um sistema tão eficiente para evitar fraudes, pois lá não temos problemas de fraude em cédulas".
Resta a pergunta, então: a quem interessa jogar dúvida sobre o processo eleitoral brasileiro?
Primeiro, é um desrespeito com centenas de técnicos, especialistas, juízes, desembargadores, promotores e procuradores que se envolveram diretamente na eleição para garantir um processo limpo e que endossaram os resultados. O presidente deu essa declaração no dia em que a economia brasileira foi sacudida pela crise internacional gerada pelos efeitos do coronavírus.
Se o presidente tem mesmo essas provas, deveria, primeiro, entregá-las ao Ministério Público Federal, ao Tribunal Superior Eleitoral, que são as autoridades competentes para atestar possível veracidade. Preferiu fazer um discurso fora do país, intempestivo, colocando todos os poderes em alerta máximo sobre algo que possivelmente não passa de tese infundada.
Será uma enorme surpresa se essas "provas" tiverem algum fundamento. A eleição ocorreu há um ano e quatro meses. Desde então, o país continua mergulhado neste permanente clima de tensão. E o presidente não se esforça para superar isso e ajudar o Brasil a sair da crise.