Não foi manifestação de rede social ou afirmação tirada do contexto: com todas as letras, o presidente Jair Bolsonaro acusou a Justiça Eleitoral de ter fraudado a eleição de 2018. Em Miami, onde está em viagem oficial, Bolsonaro disse que venceu a eleição no primeiro turno e que, em breve, vai apresentar provas. Afirmação textual:
— Eu acredito que, pelas provas que tenho nas minhas mãos e que vou mostrar brevemente, eu fui eleito em primeiro turno, mas, no meu entender houve fraude. Nós temos não apenas uma palavra, nós temos, comprovado previamente, e eu quero mostrar, porque nós precisamos aprovar no Brasil um sistema seguro de apuração de votos.
Mesmo que tenha sido apenas uma cortina de fumaça para desviar a atenção dos graves problemas que o Brasil enfrenta, a acusação de Bolsonaro, feita em evento público e divulgada no Jornal da Record, é gravíssima e exige uma manifestação da presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Rosa Weber, e do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli.
O silêncio dos ministros do Supremo é tão preocupante quanto o disparate presidencial em si, que pode ser interpretado como uma forma de desqualificar as instituições.
Não é de hoje que Bolsonaro contesta a credibilidade das urnas eletrônicas. Uma de suas promessas era propor ao Congresso um projeto de lei prevendo o voto impresso. Não mandou e, agora, ressuscitou a acusação feita em 2018 de que só teve de disputar o segundo turno porque foi roubado nas urnas eletrônicas. Tão logo saiu o resultado do primeiro turno, Bolsonaro fez uma manifestação via internet dizendo suspeita que só não fora eleito no dia 7 de outubro devido às fraudes na urna eletrônica.
— Se tivéssemos confiança no voto eletrônico, já teríamos o nome do futuro presidente da República decidido no dia de hoje — afirmou.
Às vésperas do primeiro turno ele já havia divulgado um vídeo, gravado no hospital, em 16 de setembro, sugerindo que estava em curso uma fraude para beneficiar o candidato do PT, Fernando Haddad. No dia 25 de setembro, por seis votos a um, o TSE determinou que o vídeo fosse removido das redes sociais.