Imagine que você quer tirar uma foto de uma campeã olímpica para entender como ela salta um obstáculo que parece impossível. Agora imagine que você só consegue fotografar os pés dela. Se você conseguisse enquadrar o corpo inteiro, você poderia ter uma ideia melhor de como ela movimenta e coordena o corpo para atingir seu resultado de medalhista. É assim que os pesquisadores da Universidade da Pennsylvania explicam uma de suas pesquisas mais inovadoras. Eles acabam de ganhar um auxílio de US$ 1,4 milhão (R$ 5 milhões) do governo americano para desenvolver uma máquina de PET-scan (Positron Emission Tomography) para fazer imagens de corpo inteiro de pacientes com câncer, e ainda ter ao mesmo tempo informação sobre duas fontes energéticas diferentes que o tumor usa para crescer.
Os tumores usam múltiplas fontes de energia para crescer, por exemplo, a glicose, e um aminoácido chamado glutamina. As imagens PET-scan atuais trazem apenas um ponto do tumor, e apenas informação sobre uma única fonte de energia, glicose ou glutamina, injetadas radioativas para a imagem. Se você quiser mais um ponto do corpo, ou outra fonte de energia, mais um exame, mais um dia, mais radioatividade. Com esse novo aparelho que está sendo desenvolvido, será possível obter cerca de 40 vezes mais informação, com muito menos radioatividade, no mesmo dia.
O PennPET Explorer, como foi batizado, trabalhará com técnicas de aprendizagem automática, ou de máquina, usando algoritmos de redes neurais, para interpretar os dados. Isso dá velocidade incomparável para o aparelho, e qualifica sobremaneira as imagens obtidas. Finalmente, nos ajuda a entender diferenças metabólicas entre o tecido tumoral e o saudável adjacente, para otimizar as terapias e diminuir efeitos colaterais indesejados.
Gostou? Agora imagine que você é um jovem que quer trabalhar com isso, construir instrumentos diagnósticos inovadores como esse, desenvolver tecnologias. E você lê esta notícia, e lê também que o "governo" Temer, além de ter cortado metade do orçamento de ciência e tecnologia do Brasil, quer cortar mais 18% no ano que vem. Que a maioria das pessoas em cargos governamentais e legislativos vai apoiar isso, e que eles pensam e fazem políticas para cortar cada vez mais o apoio governamental para ciência e educação no país. Como você acha que se sentiria, onde pensaria em se estabelecer para construir seu futuro profissional?
Esses jovens, com certeza os melhores deles, já estão deixando, e deixarão, o país. Você, seus filhos, seus netos, não terão nunca aqui este tipo de iniciativa. Os poucos que puderem pagarão fortunas para realizar esse tipo de exame – para ficar apenas no mesmo exemplo – que pode ser a diferença entre a vida e a morte. Você realmente acha que empresas privadas passarão a investir neste país, para que se desenvolvam tecnologias de ponta acessíveis para a população? Neste país, onde cada vez mais jovens talentosos se vão, mas um presidente e um Congresso corruptos, permanecem à vontade? Pense nisso, por favor, quando você for eleger alguém. Vamos tentar ver o quadro inteiro. Ciência não é gasto; é investimento. Qualquer argumento em contrário fere profundamente os seus direitos de cidadão.