Uma cópia estalando de nova de Bye Bye Brasil (1979) foi exibida há alguns dias em Nova York, dentro da programação do festival Isso É Brasil: Cinema According to L.C. Barreto Productions, que celebrou os 60 anos da empresa de produção cinematográfica dos Barretões com uma seleção de 13 filmes — de Vidas Secas (1963) a Flores Raras (2013), passando por Terra em Transe (1967) e Dona Flor e seus Dois Maridos (1976).
Esta foi a segunda vez em que assisti ao filme do Cacá Diegues no cinema. A primeira, por coincidência, foi também fora do Brasil, em 1986, quando eu passei uma temporada na Califórnia. Lembro de sair daquela sessão comentando empolgadamente o filme com uma amiga, em português, o que bastou para que um grupo de americanos nos abordasse com perguntas sobre o Brasil. Éramos muito jovens — eu, minha amiga e a democracia brasileira. Quanto mais a gente falava sobre a história recente do país, mais eu percebia o realismo fantástico daquela conversa sobre presidentes que morriam na véspera da posse, congelamento de preços, fiscal da inflação. Mas a sensação, minha e deles, saindo do cinema com a majestosa música do Chico Buarque ainda na cabeça, era de que o Brasil era um baita país legal, apesar dos problemas.
Quarenta e cinco anos dentro do futuro em relação à estreia do filme, o Brasil continua com muitos dos mesmos problemas (pobreza extrema, exploração predatória das pessoas e da natureza) — e ganhou outros que nem sequer eram sonhados naquela época (saem as antenas de TV, entra o satélite do Elon Musk). De maneira geral, Bye Bye Brasil envelheceu bem, mas, em 2024, é impossível ignorar a perspectiva “brancocêntrica” de um filme tão exuberantemente brasileiro. Andorinha (Príncipe Nabor), o único negro, entra mudo e sai calado, depois de passar o filme todo fazendo trabalho braçal para Lorde Cigano (José Wilker) e Salomé (Betty Faria). Os índios até falam, mas bebem Coca-Cola e parecem sem rumo. Na linguagem de hoje em dia, diria-se que falta agência a esses personagens.
Saí do cinema menos empolgada do que da primeira vez, confesso. Não porque o filme ficou datado, bem pelo contrário, mas porque tornou-se mais difícil contrabalançar o retrato crítico do Brasil profundo com aquele otimismo de base tão espontâneo nos primeiros anos pós-ditadura. Talvez seja a idade ou o espírito pessimista do tempo. Talvez seja pura nostalgia do nosso futuro do passado.