Mary Tyler Moore morreu em 2017, aos 80 anos, depois de ter sido uma das atrizes mais populares da televisão americana durante pelo menos duas décadas. Tina Turner morreu há duas semanas, aos 83, celebrada como a grande diva do rock, do pop e do rhythm and blues. Um documentário sobre a atriz, Being Mary Tyler Moore, estreou na HBO na semana em que a cantora morreu. Um documentário sobre a cantora, Tina, está disponível na mesma plataforma desde 2021.
Mary Tyler Moore e Tina Turner parecem ter pouco ou nada em comum além do fato de terem feito muito sucesso em determinada época, mas, como muitas artistas da mesma geração, as duas foram afetadas por mudanças que dividiram suas carreiras em dois atos bem distintos. As diferenças entre essas duas etapas refletem não apenas uma evolução pessoal ou artística, mas as mudanças que estavam afetando a vida de quase todas as mulheres no final dos anos 1960.
Como na clássica cena de O Mágico de Oz em que Dorothy abre a porta de casa e tudo que era preto e branco fica colorido, é fácil distinguir Kansas da Terra de Oz assistindo a vídeos antigos das duas. De um lado, laquê e vestido tubinho. Do outro, cabelos soltos e minissaia. De um lado a mulher do passado, do outro a mulher do futuro – mesmo que poucos anos tenham se passado nesse intervalo. (Marisa Monte, uma das grandes cantoras da minha geração, não mudou sequer a cor do batom desde 1988, quando eu a vi no palco pela primeira vez. A moda foi e voltou durante esses 35 anos, claro, mas nunca de forma tão radical quanto entre 1960 e 1970.)
A fase em preto e branco de Mary Tyler Moore corresponde à sitcom semanal The Dick Van Dike Show (1961 – 1966), em que a atriz interpretava uma dona de casa considerada “moderna” porque usava calças compridas e dispensava o salto alto na hora de passar o aspirador (sim, as donas de casa da televisão americana dos anos 1950 pareciam achar a maquiagem e o salto alto indispensáveis para a boa execução das tarefas domésticas). A fase colorida foi a do seriado Mary Tyler Moore (1971 – 1977), o primeiro a retratar uma mulher que trabalhava, morava sozinha e passava a noite com os namorados.
Para Tina Turner, o mundo em preto e branco era aquele em que ainda dividia o palco com Ike Turner, o marido cruel e amargurado que atormentou sua vida e explorou seu talento durante 15 anos – do qual se separou em 1978. Sorte sua, sorte nossa. No lado mais colorido da vida, pernas de fora, cabelos soltos e um sucesso do tamanho do mundo estavam a sua espera.