Depois de seis temporadas, foi ao ar na semana passada o último episódio de This Is Us (Amazon Prime e Star+). Para quem não conhece ou nunca assistiu, This Is Us é uma série que avança e recua no tempo para contar a história de uma família, os Pearsons – pai, mãe e três filhos. O último episódio não teve suspense nem grandes revelações. Pelo contrário. Sem muito spoiler, dá para adiantar que a despedida foi uma espécie de celebração da rotina. Ainda assim, boa parte dos espectadores chorou do primeiro ao último minuto do capítulo final – eu inclusive.
Tem gente que prefere séries com dragões voadores, tiroteios, crimes insolúveis. Eu gosto de histórias de pessoas, de como elas enfrentam obstáculos, como superam traumas, como conseguem fazer de um limão “algo parecido com uma limonada” – um dos motes de This Is Us. Foi por isso que me apaixonei pela série desde o primeiro capítulo, mesmo percebendo que a história flertava perigosamente com o melodrama – que está para o drama assim como o sentimento está para o sentimentalismo.
Sim, eu admito, This Is Us é uma série feita para fazer a gente chorar, mas, se você não rejeita o aspecto catártico da ficção, é possível que se interesse pelos personagens e até se identifique com eles em algumas situações. Isso porque, em essência, os Pearsons são como todas as famílias: parecidas na felicidade, distintas no sofrimento, como define Tolstoi na abertura de Anna Karenina. À medida que a história se desenrola, vai ficando mais claro que os avanços e recuos na cronologia não servem apenas para ampliar o número de personagens e mostrar os desdobramentos da trama no passado e no futuro. Mais do que a história de uma família, This Is Us é uma reflexão sobre a passagem do tempo e sobre o que permanece em nós das pessoas que perdemos.
“Fazer do limão algo parecido com uma limonada” parece banal, mas não é. Para extrair sentido das nossas experiências ruins – a limonada –, é preciso ser capaz de recontar a própria vida prestando atenção não apenas no que se perde, mas também naquilo que se transforma e, de alguma forma, permanece vivo para sempre.
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Escrevo pensando no Bernardo, filho do meu amigo David Coimbra. Imagino as histórias que o David deve ter contado ao Bernardo enquanto ele crescia, narrativas tão ecléticas e saborosas quanto as crônicas que ele escrevia no jornal – dos imperadores romanos e suas conquistas aos personagens de carne e osso que entrevistou como repórter, de opiniões fortes sobre assuntos graves a palpites despretensiosos sobre os assuntos mais bobos. Penso em todas as vezes em que o David escreveu sobre o filho e no privilégio que é guardar um amor, uma vida, para sempre, em palavras. Para o Bernardo e para todos nós, amigos e leitores, David deixou a mais doce versão da limonada que eu conheço: viver, amar, contar. Muito.