Apertem os cintos, tapem os ouvidos, cancelem a internet, renovem o estoque de ansiolíticos, fujam para as montanhas. Os próximos meses serão selvagens. Ainda mais selvagens.
Segundo a última pesquisa eleitoral do Datafolha, 60% dos entrevistados afirmaram que não votariam de jeito nenhum em Jair Bolsonaro. A boa notícia: 60% dos brasileiros acreditam que nada pode ser pior do que a política do desmonte, do confronto permanente, da ausência de propostas, do descaso com a vida, da incompetência, da mesquinharia. A má notícia: para manter motivada sua base (os 22% que afirmam que votariam nele no primeiro turno), é possível que o presidente acelere na lomba, radicalizando ainda mais o discurso ao depositar todas as fichas que lhe restam na chamada “antipolítica”.
Bolsonaro conseguiu eleger-se em 2018 convencendo parte dos eleitores de que sua “antipolítica” se traduziria em uma administração sem corrupção ou toma-lá-dá-cá. Não era verdade, claro, como qualquer um que acompanhava sua trajetória (e a dos seus filhos) já sabia – e ficou impossível de disfarçar desde que seu governo abraçou o Centrão.
Não se pode dizer, no entanto, que Bolsonaro mentiu ao se apresentar como a mais completa tradução da “antipolítica”. Não no sentido de romper com os mecanismos da política tradicional, obviamente, mas no da incapacidade de desenvolver o nível mais rudimentar de diálogo. Azar do país que colocou um adulto que age como uma criança mal-educada na Presidência da República.
Um dos exemplos mais recentes da sua “antipolítica” é o vídeo, divulgado na semana passada, em que aparece conversando com empresários da Fiesp sobre a decisão de demitir diretores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) depois que a instituição interditou uma obra do empresário Luciano Hang, seu aliado. “O que que é Iphan, com ‘ph’?”, pergunta-se Bolsonaro. “Explicaram para mim, ripei todo mundo do Iphan. Botei outro cara lá. O Iphan não dá mais dor de cabeça para a gente”.
Bolsonaro agiu da mesma forma com a Polícia Federal, com a Anvisa, com o Ibama, com o Enem… Diante de um obstáculo, sua única “estratégia” é a de derrubar todas as peças do tabuleiro. Não apenas para defender os próprios interesses, o que já seria ruim o suficiente, mas pela incapacidade de agir de forma “política” – no sentido dicionarizado de civilidade, diplomacia, astúcia.
Quando Bolsonaro dizia que ia “fuzilar a petralhada”, quando Ratinho sugere “pegar uma metralhadora” para calar a boca de uma deputada, quando um leitor deseja que eu leve “um corretivo” porque não concorda com as minhas opiniões, o que eles estão dizendo, na verdade, é que não gostam do trabalho que dá viver em uma democracia. É também barbárie. Ou, como alguns preferem, “antipolítica”. Os próximos meses serão selvagens.