O embate ainda não chegou às vias de fato - ainda que os desvios dos fatos sejam o próprio cerne da disputa. De um lado, Jack Dorsey, CEO do Twitter. Do outro Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook. No centro do ringue, um desafio de dimensões continentais: conter a disseminação de fake news sem esculhambar o espírito essencialmente anárquico das redes sociais.
Em ano de eleições presidenciais nos Estados Unidos, o Twitter decidiu sair de cima do muro. Na terça-feira passada, pela primeira vez, a rede social marcou dois tweets de Donald Trump com o selo de “potencialmente enganoso”, criado para alertar usuários sobre informações não comprovadas usadas para fins eleitorais. Na sexta, voltou à carga, marcando um tweet do presidente americano sobre os protestos em Minneapolis com o selo de “glorificação da violência”. Em represália, Trump assinou um decreto para reduzir proteções legais de empresas de tecnologia. Em uma entrevista para a Fox News, Zuckerberg entrou na briga, mas apenas para dizer que preferia não entrar na briga: “Acredito firmemente que o Facebook não deve ser o árbitro da verdade de tudo o que as pessoas dizem online”.
No Brasil, a guerra às notícias falsas tomou dois caminhos distintos nos últimos dias. No Congresso, um projeto bem intencionado de combate à desinformação (apelidado de “PL das fake news”) propõe soluções simples para problemas complexos, e a emenda corre o risco de sair pior do que o soneto se não for discutida mais a fundo com a ajuda de especialistas. O projeto de lei do senador Alessandro Vieira deve entrar na pauta de votações na próxima terça-feira. No STF, o inquérito das fake news fechou o cerco em torno de políticos, empresários e blogueiros acusados de fazerem parte de uma associação criminosa dedicada à disseminação de notícias falsas, mas ainda é cedo para saber no que tudo isso vai dar.
Nunca é demais repetir que ideias com as quais não concordamos são uma coisa, desinformação maliciosa e manipulação de dados são outra. Para garantir a tranquilidade de quem compra, vende e produz notícias falsas, a estratégia mais comum tem sido a de equiparar propaganda política com jornalismo e liberdade de expressão com licença para enganar - o que é apenas mais uma forma de distorcer os fatos e o sentido das palavras. Não vamos nos livrar tão cedo das fake news, mas o posicionamento firme do Twitter marca um ruidoso rompimento com a política do “deixa estar para ver como é que fica” com a qual o Facebook, ao que tudo indica, pretende morrer abraçado.