A ascensão da jovem primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern foi tão rápida e surpreendente que deu origem a um neologismo: "jacindomania". Ardern chegou ao cargo em 2017, aos 37 anos, tornando-se uma das mais jovens mulheres a governar um país e a segunda a engravidar e ter um filho durante o mandato (a primeira foi Benazir Bhutto, em 1990, no Paquistão).
De sócia menos célebre do clube de políticos com carisma de pop star, que inclui Barack Obama, Justin Trudeau e a caçula Alexandria Ocasio-Cortez (capa da revista Time da semana passada, sob a manchete "O Fenômeno"), a primeira-ministra neozelandesa passou a ser vista como exemplo de liderança serena e firme nos dias que se seguiram ao massacre de Christchurch, que matou 50 pessoas há 10 dias.
Jacinda Ardern ajudou seu país a enfrentar a tragédia com gestos e ações concretas, mas soube perceber que as demonstrações de empatia eram igualmente significativas naquele momento. Evitou as notas de luto recheadas de lugares-comuns e a distância confortável dos apertos de mão protocolares. Com a cabeça coberta em sinal de respeito à comunidade muçulmana, mesmo sendo agnóstica, abraçou e consolou os familiares das vítimas de forma calorosa. Em manifestações públicas, defendeu uma luta global contra o racismo e a investigação do papel das redes sociais nesse tipo de ataque. Para completar, anunciou na última quinta-feira que estavam banidas do país armas semiautomáticas como as que foram usadas pelo terrorista - do qual, aliás, Ardern se recusa a pronunciar o nome, negando ao criminoso a fama que ele buscava ao atacar as mesquitas munido de câmera e transmitindo as cenas via Facebook.
Andamos tão saturados de discursos estridentes que quase esquecemos como soa doce a melodia da ponderação e da empatia, principalmente nos momentos de grandes traumas coletivos. Parece um gesto banal, mas abraçar alguém que perdeu um parente ou parar para ouvir o que essa pessoa tem a dizer pode amenizar, sim, a dor de quem fica - assim como oferecer respostas rápidas e contundentes aos seus problemas. O esforço de Jacinda Ardern para unificar seu país, colocando em primeiro plano o que os neozelandeses têm em comum e não o que os separa, ensina que não basta ser eleito para que um governante se transforme em uma liderança efetiva. Qualquer um é capaz de se tornar mais uma voz raivosa em meio a uma multidão sem rumo, mas só os verdadeiros líderes são eloquentes até mesmo quando guardam um minuto de silêncio.