Ele nasceu em Seul, escreve ensaios filosóficos em alemão e tem um nome tão impronunciável quanto difícil de memorizar: Byung-Chul Han. Ainda assim, Han é o que se poderia chamar de filósofo pop, atraindo a atenção de um público leigo cada vez mais amplo com ensaios curtos que examinam diferentes aspectos da vida contemporânea — muitos deles ligados aos impactos da tecnologia na forma como as pessoas pensam, sentem e se relacionam nos dias de hoje.
Entre os temas já abordados por Han em seus livros, estão o mal-estar causado pelo excesso de burburinho das redes sociais, a falta de tempo para refletir, contemplar ou simplesmente não fazer nada e a dificuldade de amar quando todo mundo parece tão preocupado com a própria imagem que fica difícil reparar em quem está em volta.
Han, nascido em 1959, é um dos sucessores de Zygmunt Bauman (1925 – 2017) no posto de intelectual empenhado em decifrar a época em que estamos vivendo – expressando-se em uma linguagem acessível ao leitor médio. O sucesso de ambos no mercado editorial revela o quanto esse tipo de reflexão em cima do lance, ainda que arriscado, é necessário. Se com alguma frequência você costuma ficar com aquela sensação de "que tiro foi esse?" quando lê os jornais ou descobre alguma nova treta na internet, bem-vindo ao clube. Quem não está perplexo ou confuso com a forma como as pessoas estão agindo (e reagindo) é um gênio à frente do seu tempo – ou provavelmente anda mal informado.
No Brasil, a Editora Vozes vem lançando os títulos de Byung- Chul Han desde o ano passado. Já saíram por aqui Agonia do Eros (sobre relações amorosas), Sociedade de Transparência (sobre compartilhamento), Topologia da Violência (sobre a depressão como um gênero contemporâneo de violência) e Sociedade do Cansaço (sobre a obrigação de "desempenhar" o tempo todo).
Se você costuma ficar com aquela sensação de 'que tiro foi esse?' com alguma frequência, bem-vindo ao clube.
Este último livro, que estive lendo nos últimos dias, parte da ideia de que o excesso de possibilidades a nossa disposição vem criando um ambiente de exaustão – "burn out", no título em inglês. Han usa os slogans da campanha de Barack Obama ("yes, we can") e da publicidade da Nike ("just do it") como exemplos lugar-comum de que tudo é possível para quem sabe o que quer e trabalha para chegar lá. Não vivemos mais na época da disciplina e da hierarquia, mas no reinado do "é proibido proibir" (um dos slogans mais célebres do cinquentenário maio de 1968).
E quando tudo, em tese, é permitido, não apenas temos a obrigação de inventar uma identidade bem-sucedida e funcional como devemos arcar sozinhos com nossos erros, fracassos, escolhas equivocadas ou simples inapetência para "desempenhar" a todo momento — sem poder culpar a família, a escola, a religião ou mesmo o país em que nascemos por tudo aquilo que deu errado.
O autor não é do tipo que oferece receitas prontas, mas sugere que o melhor antídoto contra essa sensação de que a gente está correndo atrás de um T1 que sempre passa lotado, é aprender a desacelerar — e apreciar melhor a paisagem.