Eles não pensam em seguir carreira acadêmica, mas consideram filosofia uma das disciplinas mais importantes que tiveram na escola. Monique Murer, de 17 anos, e Pedro Lucas de Oliveira, de 18, vão representar o Brasil neste ano na 26ª Olimpíada Internacional de Filosofia, em Montenegro, na Europa.
Alunos do 3º ano da Escola Móbile, na zona sul de São Paulo, os adolescentes dizem que a disciplina deu a possibilidade de refletir sobre situações cotidianas e desenvolver um olhar mais crítico - e mesmo empático.
— Nas aulas de Filosofia, nós sempre debatíamos e fazíamos um paralelo da teoria com o que está acontecendo atualmente. Isso ajudou a mudar minha compreensão de mundo. Consigo me colocar mais no lugar do outro, lidar com opiniões diferentes da minha e esse aprendizado é importante para qualquer profissão que for seguir — afirma Pedro Lucas, que pretende cursar Psicologia.
O processo seletivo para a competição internacional consiste em escrever um ensaio filosófico a partir da escolha de um dos quatro fragmentos de textos de grandes filósofos. Pedro Lucas discorreu sobre questões político-sociais e Monique, sobre feminismo.
— Sempre fui apaixonada pelas ideias feministas e, nas aulas, a gente acabava abordando e debatendo o tema, o que me fez enxergar de outra forma, entender melhor e gostar ainda mais — diz a estudante, interessada na graduação de Relações Internacionais.
Em alta
Em um momento em que a Filosofia perdeu espaço na grade curricular do Ensino Médio como uma disciplina obrigatória — o texto da reforma não coloca Filosofia e Sociologia como disciplinas específicas, mas como "estudos e práticas" —, o interesse dos adolescentes parece ir na contramão da proposta do governo. Canais no YouTube que abordam a área chegam a ter mais de 100 mil seguidores, como o Alimente o Cérebro, em que um dos vídeos mais assistidos trata da "filosofia dos buracos negros".
Badalada na Netflix, a série Merlí também mostra como a Filosofia pode ser apaixonante para adolescentes. A história conta a trajetória de um professor do ensino médio em uma escola catalã. No programa, o ensino da disciplina não se resume a uma série chata de conceitos, mas é considerado uma janela para a descoberta de um mundo do pensamento.
O professor Merlí Bergeron propõe como tarefa que seus alunos aprendam a pensar por si mesmos. O diretor da série Héctor Lozano já disse em entrevistas que a Filosofia não é um saber "distante e inútil", mas pode ser usado como ferramenta para enfrentar desafios do cotidiano. Cada capítulo da série tem por título uma escola ou pensador da filosofia.
— É uma disciplina fundamental na escola, principalmente para adolescentes, que estão em um momento de questionar, de construir a própria identidade. A Filosofia provoca e isso é muito importante nessa idade — afirma Felipe Corazza, professor do Móbile.