Lembro quando meu filho escalava o seu time do vídeo game e sempre um camisa 9, na época do Barcelona, azucrinava ainda mais a minha incapacidade com os dedos no controle remoto. As minhas derrotas eram inquestionáveis e com uma diferença de gols que mais parecia um jogo de basquete. E o goleador tinha nome e sobrenome: Luis Suárez.
A grandiosa história do craque uruguaio passou sempre muito longe de Porto Alegre. Quatro copas do Mundo como protagonista da Celeste, muitos gols por todos os clubes que passou, ídolo na Inglaterra, na Holanda, na Espanha, Suárez sempre representou um futebol que não combinava com as dificuldades do esporte no Brasil.
A primeira menção sobre Luis Suárez por aqui veio cercada de desconfiança. A “síndrome de vira latas” eternizada por Nelson Rodrigues esteve presente quando surgiu a possibilidade de ter um jogador deste padrão entre nós. Frases como “ele acabou”, foram ouvidas em todas as esquinas de Porto Alegre. Se Suárez quer jogar no Brasil é porque ele não pode mais jogar futebol em alto nível, diziam por todos os cantos.
E veio Luiz Suárez. E ele veio para o Grêmio. Um clube saído da segunda divisão e que não tinha um projeto poderoso no campo do futebol. Poucos entenderam o movimento do jogador e a incredulidade ganhava ainda mais contornos de insegurança. Mas ele chegou inteiro, e aqui não estou falando do futebol. O ídolo uruguaio veio viver Porto Alegre. Suárez chegou na capital dos gaúchos de corpo e alma. Trouxe a família, fez compras no supermercado, visitou restaurantes, levou o filho para a escolinha do Grêmio. Foi gente.
Mas ainda era preciso ser jogador. E foi aí que o mundo bateu palmas. Aos 36 anos, Suárez chegou em Porto Alegre para jogar futebol. Com a camisa 9 do Grêmio, se fez mais do que ídolo por aqui. Em uma temporada de números absurdos, Luis Suárez virou referência e mudou os parâmetros de comparação em todo o futebol brasileiro. O Grêmio ganhou um craque que ensinou por todos os caminhos que participou, dos mercados em Eldorado aos estádios pelo país.
Luis Suárez deixa muitas lições por aqui. O seu período no Grêmio fez a torcida acreditar em algo mais. Fez o sonho do topo estar mais perto do Brasil. Mostrou que precisamos buscar atletas mais profissionais e que eles existem, independentemente do sucesso que possam ter. Suárez mostrou respeito pelo futebol brasileiro e ao Grêmio, jogando quase todas as partidas da temporada. Suárez abriu as portas para que bons projetos permitam a chegada de ídolos do mundo no Grêmio e no futebol brasileiro.
E quanto ao vídeo game, confesso que tenho escolhido o camisa 9 do Grêmio em todos os jogos contra o meu filho. As derrotas seguem acontecendo, mas agora, ao menos, alguns gols estou conseguindo fazer e o goleador tem nome e sobrenome: Luis Suárez!