Samantha Pedroso, 22 anos, uma jovem linda de cabelos longos e bochechas enrubescidas, acorda aflita para ver se ainda sente as suas pernas, a sua bexiga.
Está hoje no Hospital Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul (RS).
Toda manhã acaba sendo um mistério dolorido, e um alívio. Ela dorme contrariada, com medo do pior. Assimila o tempo de outra forma, distribuído em longas horas de apreensão. Amarga uma contagem regressiva.
É que ela possui um tumor na região torácica, com fratura em uma vértebra. A compressão medular vem tirando gradualmente seus movimentos. Pode ficar paraplégica a qualquer momento, a qualquer instante.
Somente uma cirurgia de seis horas no valor de R$ 150 mil, a ser realizada na rede privada, salvaria a sua mobilidade.
Ela não tem recursos financeiros. Sua família, tampouco. Seu plano de saúde não cobre a cirurgia. A intervenção no SUS, embora seja na condição prioritária, iria demorar. A urgência encurrala a esperança.
Ela cursa o quarto ano de Direito na UFPel, faz estágio no Ministério Público e se vira com R$ 1.300 para pagar suas despesas e seu aluguel. Não sobra nada.
No auge da idade, Samantha convive com o terror da finitude. Nunca namorou na vida. Acalenta o desejo de achar, dentro da alma de um namorado, um grande amigo para confiar de olhos fechados. Considera injusto demais partir sem a chance de um romance. Leitora inveterada, com uma biblioteca de 400 livros que se orgulha de juntar pouco a pouco, sonha em concretizar uma história de amor. Sonha em se tornar juíza. Sonha em ter cachorros e as sete existências dos gatos. Sonha em viajar. Sonha em formar uma família.
Sua vaquinha digital arrecadou 1/3 do valor até agora, com ajuda da comunidade e dos promotores públicos gaúchos.
— É uma luta de cada vez. Primeiro, preciso garantir a minha coordenação motora. Colocar um espaçador para substituir a vértebra quebrada e diminuir a pressão do tumor que pode me levar à paralisia. Daí começará uma segunda batalha pela sobrevivência, com a retirada do tumor, e a biópsia para definir se ele é benigno ou maligno.
Tudo iniciou em dezembro de 2023, com uma crise nas costas, que a fez descobrir uma hérnia de disco lombar. A falta de investigação mais detalhada acarretou complicações. Em 20 de agosto, descendo as escadas da universidade, caiu um tombo. Já era consequência do tumor, que ela somente desvendaria em setembro, por meio de uma ressonância magnética. Durante alguns meses, não entendia o que estava acontecendo, só percebia que algo a limitava e atrofiava a sua capacidade de andar e de se deslocar sozinha.
Pediu resgate para os pais Eliana Beatriz, auxiliar de escritório, e Iba de Freitas, safrista, que moram na sua cidade natal, Santa Cruz do Sul.
— Eu queria estar cuidando dos meus pais, não queria estar dando mais trabalho para eles. Tenho medo de deixá-los, porque sou filha única. Temo pelo futuro deles.
Mesmo envolvida no mais puro sofrimento, mesmo num quarto de hospital que não sabe como vai pagar, mesmo com um diagnóstico que é uma sentença de morte, ela só se preocupa com os pais.
Samantha merece viver. Não é fácil encontrar uma filha como ela.