Uma senhora paranaense de Toledo, de 79 anos, caiu em um golpe por acreditar que namorava o empresário Elon Musk. Gastou R$ 4 mil em cartões da Apple. Ela ainda se confundiu, achando que o suposto namorado era dono da Apple. Na verdade, a empresa foi fundada por Steve Jobs. Musk é dono de companhias como a rede social X, a espacial SpaceX e a automotiva Tesla.
É bom ver uma octogenária com coragem de amar e iniciar um relacionamento. É triste ver o quanto a ingenuidade é explorada pela perversidade de estelionatários.
Antes de rir da situação, do sofrimento alheio, que tenhamos compaixão: hoje qualquer um pode ser ludibriado pela inteligência artificial.
Mesmo sem jamais crer no contato um tanto inimaginável de Musk, num conto de fadas faraônico, todo mundo pode se atrapalhar com a clonagem do WhatsApp de um amigo.
Relatarei uma experiência pessoal.
Quando um afeto me reivindicava socorro, eu costumava me certificar de que não era um golpe — e, veja bem, acabamos de passar por uma enchente e acompanhar muitos colegas e conhecidos atravessarem sérias dificuldades financeiras com a perda da casa — sugerindo que me mandasse um áudio. A voz comprovava a veracidade da urgência.
Isso não mais funciona. Eu percebi no momento em que meu amigo Beto disse que não conseguia quitar um boleto devido a limite bancário. Ele me prometeu que devolveria o dinheiro no dia seguinte.
Estranhei o teor das mensagens, já que em nosso passado nunca me pedira um favor, muito menos de natureza financeira. Não desfrutávamos de tamanha intimidade, mas vá lá que fosse o seu desespero falando.
— Consegue fazer um pagamento pra mim? Fiz dois pagamentos hoje. Meu limite excedeu, amanhã libera. Eu faço de volta sem falta, tá?
Tentei ligar. Ele não me atendeu e, imediatamente, enviou um print de tela de computador em que apareciam janelinhas com várias pessoas. Demonstrava assim que participava de uma reunião.
Esclareceu:
— Estou numa call!
Solicitei, então, um áudio.
Recebi dois áudios dele, com sua voz. Ainda que abafada e metálica, era a voz dele.
— Preciso de sua ajuda.
— Queria um favor!
Parecia que se tratava de um fato sincero. Questionei o número da conta. Ele ansiava por mil reais.
Daí ele começou a alegar que eu tinha que pagar um boleto diretamente. Insistia que não fizesse um Pix, que debitasse a fatura à parte.
A minha credulidade se despediu no ato. Uma conta com o nome dele e o CPF fazia sentido, um boleto anônimo jamais.
Abandonei a conversa sem dó nem piedade. Aguentei dentro de mim a culpa por não ajudar, porém não me restava mais certeza de nada. A desconfiança prevaleceu.
Três horas depois, ele avisou que seu número no WhatsApp tinha sido invadido.
Por muito pouco, não sucumbi ao engano. Se tivesse mais pressa e menos questionamentos, seria vítima da tramoia.
O que chama atenção é que houve print de tela de uma call, houve áudios, não dá mais para se fiar em provas. Tudo é passível de falsificação.