Projeto de lei do Ministério da Educação (MEC) prevê a proibição do uso de celulares dentro da sala de aula.
Instaurou-se uma polêmica envolvendo suposta censura à liberdade de expressão, quando na verdade a iniciativa diz respeito a ajustes das regras de convivência com os efeitos do mundo digital, a melhorias do ambiente de aprendizado diante de tantas transformações tecnológicas.
Não tem nada a ver com veto, mas com o estabelecimento de um limite ao uso do dispositivo, que acaba gerando dependência e distorção de entendimento.
Aos que são contra o projeto, alegando que fere a autonomia, cabe lembrar que a França — nação do Iluminismo e do Existencialismo, que assume a liberdade como um de seus lemas — já adotou a restrição. Nas escolas francesas, estudantes de até 15 anos não podem empregar quaisquer objetos conectados à internet, como celulares, tablets e relógios. A medida se aplica, inclusive, ao recreio.
Na Dinamarca — país considerado um modelo de desenvolvimento, em que 82% dos adultos entre 25 e 64 anos concluíram o ensino médio —, o celular também é dispensado, devendo permanecer silencioso na mochila. Essa prática se verifica na Espanha, Grécia, Suíça e México.
Portanto, não é uma questão de ideologia, e sim uma urgência para reaver as virtudes do ensino presencial, tanto no Brasil quanto no exterior.
Sou amplamente favorável a não permitir o celular na classe, a desmamar o aluno do seu smartphone. Trata-se de um detox de cinco horas que somente trará benefícios.
Já que o celular é uma das maiores fontes de bullying, com filmagens não autorizadas que atingem colegas e professores, bem como disseminação de ofensas e injúrias nas redes sociais, postadas durante o período da aula. Em março deste ano, por exemplo, a Polícia Civil recebeu a denúncia de divulgação e compartilhamento de imagens feitas com IA de nudez de alunas de uma escola particular de Porto Alegre, localizada em bairro da Zona Norte.
Já que o celular é um risco para a cola, ainda mais com a possibilidade de acessar chats que produzem textos em minutos. Ninguém responderá com as suas próprias ideias e palavras.
Já que o celular é símbolo de ostentação e exclusão social, servindo para diferenciar quem goza de condições financeiras privilegiadas e quem não tem igual facilidade. Não dispor de uma câmera adequada para tirar uma fotografia ocasiona zombarias na turma. É uma disputa de status semelhante a exibir um tênis de marca ou roupa de moda.
Já que o celular desvia a atenção do conteúdo repassado pelo professor, que está, muitas vezes, de costas, escrevendo na lousa, indefeso às conversas paralelas e trocas de mensagem por WhatsApp.
A pedagogia off-line consistirá numa rara oportunidade durante o dia para a criança erguer o olhar e levantar o queixo, afiando o foco, interagindo com expressividade e exercitando o raciocínio crítico.
Como a família não consegue essa proeza em casa, nem mesmo na hora sagrada do almoço ou do jantar, em algum momento da vida, é necessário se desligar da telinha.
Desse modo, os alunos já estarão se preparando para o ENEM e vestibular. Nos grandes testes de seleção, o celular jamais se fez presente.