A princípio, a reação é de horror. Em pouco mais de um mês, foram cinco chacinas: triplo homicídio em Porto Alegre, triplo homicídio em Alvorada, quatro assassinatos em Rolante e, no último feriadão, quatro assassinatos em Santa Rosa e outros quatro em Arroio dos Ratos.
Dezoito corpos estendidos em matança do tráfico, sob a luz do sol, rompendo a pacatez da capital e do interior, mexendo com os ânimos dos moradores.
São episódios sangrentos sem precedentes no Estado, e parecem indicar uma situação fora do controle, de caos e desordem pública, de inferno e aflição das forças policiais.
Não tem como não ficar assustado, não tem como não se perguntar: onde vamos parar?
Corre pelas artérias de cinco municípios o medo generalizado de balas perdidas, e até mesmo o receio de ser confundido com um dos alvos.
Só que eu vejo o contrário: é o tráfico desesperado, agonizante, sem saída, esperneando, procurando chamar atenção justamente porque a repressão está surtindo efeito.
Os índices da Secretaria da Segurança Pública apontam queda de 27% no número de homicídios, 67% no de latrocínios e 40% no de feminicídios, e redução pela metade dos casos de furto, de roubo a pedestre e de roubo de veículos, comparando o mês de agosto de 2023 com o de 2024.
É de se esperar que o crime organizado queira desestabilizar a Polícia Civil e Militar e pintar um cenário de violência e selvageria para manchar a credibilidade dos dados e estatísticas.
Entre março e julho deste ano, por cinco meses consecutivos, Porto Alegre chegou a alcançar o padrão internacional de segurança da ONU, de 10 homicídios ao ano por 100 mil habitantes — 90% dos municípios gaúchos detêm regularmente esse patamar.
O pânico atende ao propósito de tirar a confiança depositada pelo cidadão no governo e debilitar as operações constantes de combate aos entorpecentes, como se elas não estivessem funcionando. Mas estão.
É aquele dito popular: tudo piora um pouco mais antes de melhorar.
A queima de arquivos é prova do insucesso da circulação das drogas. A guerra entre facções é sinal de que a cadeia entre fornecedores e usuários não está sendo mantida.
A disputa de poder se precarizou com a carestia da enchente.
Os traficantes perderam capital, arcaram com a apreensão do seu produto, tiveram contas e patrimônio bloqueados, então passaram a realizar exibições de força a partir de ciclo escandaloso de assassinatos. As chacinas são represálias ao mapeamento da lavagem de dinheiro e à prisão das suas lideranças.
A minha perspectiva é avalizada pelo secretário da Segurança Pública, Sandro Caron.
— Os últimos acontecimentos em Santa Rosa, Arroio dos Ratos e Rolante demonstram uma tentativa de mudança de estratégia dos traficantes em razão das operações policiais que estamos colocando em prática. Toda vez que apreendemos armas e drogas e promovemos a asfixia financeira desses grupos, eles buscam novos pontos de tráfico, principalmente em cidades menores do interior.
Não podemos recuar. Não podemos desanimar. Não podemos flexibilizar as ações.
O tráfico vem sentindo os golpes.