Se um Estado inteiro dos Estados Unidos sucumbisse, deixaria de ser um problema do Estado afetado, passaria a ser do país. É uma questão de proporcionalidade.
Não tem como o próprio Estado vitimado e colapsado se ajudar.
O Brasil não pode reconhecer a invasão das águas e o deslizamento de terra como uma situação eventual de emergência, com status de socorro episódico, até os rios baixarem.
Trata-se de uma tragédia humanitária sem precedentes, afetando 446 municípios dos 497 do Rio Grande do Sul.
E a chuva continua, e a devastação prossegue, novas cidades vêm sendo destruídas, como Lajeado, Pelotas e Rio Grande. Sequer a Capital está a salvo de um novo transbordamento do Guaíba, com previsão de que atinja 5m50cm, meio metro abaixo do limite do muro da Mauá, de acordo com o Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. Um ponto importante é que Porto Alegre tem urgência para consertar o seu sistema de defesa – e merece a participação total e irrestrita do Exército, para contar com o máximo de casas de bombas em funcionamento.
Mais de meio milhão de pessoas estão desabrigadas até o momento. Um êxodo irrefreável. Onde alojá-las? Como, no meio do caos?
Acampamentos e alojamentos têm uma natureza meramente preventiva e provisória. Resgates existem quando a evacuação fracassa. A impressão é que ninguém mais manda naquilo que está acontecendo. A sociedade civil está tentando se virar na base da caridade e da solidariedade.
Onze milhões de habitantes vêm experimentando duas semanas de terror, e dependem de um posicionamento firme e jamais adotado pelo governo em sua história republicana.
Entenda-se, de uma vez por todas, que uma unidade federativa do país se vê seriamente ameaçada de extinção, com suas bases econômica e social comprometidas.
É prioridade nacional. Toda a política deveria estar voltada exclusivamente para proteger a Região Sul da catástrofe, em que a miséria e o desemprego desencadearão um cenário de extrema violência.
As ações do Palácio do Planalto precisam ser transferidas imediatamente para o Palácio Piratini. Nossas demandas vão muito além de ter ministros em missões ou um presidente vistoriando os escombros de cima, num helicóptero.
As ações do Palácio do Planalto precisam ser transferidas imediatamente para o Palácio Piratini. Nossas demandas vão muito além de ter ministros em missões ou um presidente vistoriando os escombros de cima, num helicóptero.
Como a maior parte dos municípios gaúchos ainda se encontra submersa, não conseguimos identificar os danos causados e determinar quais serão os investimentos para manter a rede básica de serviços e de transportes. Estima-se uma quantia de R$ 70 bilhões a R$ 90 bilhões para a refundação das cidades (desta vez, cidades sustentáveis, com retaguarda contra cheias).
Não devo sequer apelar para o bom senso e alegar que o Brasil depende de nosso setor agropecuário. O RS é responsável por 70% da produção de arroz no país. Encomendar de outros lugares para preencher a lacuna não é solução, mas um completo descaso, um gesto de absoluta insensibilidade. Como se fôssemos descartáveis. Por que não nos ampara com a logística para escoarmos a lavoura já colhida (83% da safra)?
A medida se estenderá também para a produção de soja, trigo e milho? Para a carne suína, de que o Estado é o terceiro maior produtor do país, com 18% a 20% do mercado nacional? E também para o frango, setor do qual o Estado detém 11%?
Convenhamos, isso me parece salvar o Brasil do Rio Grande do Sul, não o Rio Grande do Sul para o Brasil.