Não é a primeira vez que acontece uma Terceira Guerra Mundial. Já existiram várias situações de estremecimento no Oriente Médio ou na Guerra Fria que acreditávamos ser o fim dos tempos.
O senso comum quer sempre saber quem atacou primeiro, quem iniciou a provocação. Não há como definir.
A crise se agravou no dia 1º de abril, após Israel bombardear o consulado do Irã em Damasco, na Síria.
No sábado (13), Teerã, alegando legítima defesa, ofereceu sua resposta com o lançamento de drones de seu território, fustigando uma região abalada por mais de seis meses de guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza.
Irã estaria respondendo à investida israelense que matou seu comandante sênior da Guarda Revolucionária e outras seis pessoas na Síria.
Só que a natureza do ataque do Irã foi mais simbólica do que real. Tratou-se de uma performance telegráfica, interessada exclusivamente em dar um recado, justificando à opinião pública que irá se defender contra qualquer abuso ou invasão de suas fronteiras. Funcionou como uma advertência ao Ocidente.
Vivemos esse impasse: se houver réplica de Israel, mesmo sem mortes e sem danos evidentes na sondagem inimiga, não podemos prever as consequências, já que tanto o aiatolá quanto o premiê israelense detêm armas nucleares.
O personagem mais perigoso no tabuleiro é o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que vem negando mediações da ONU e agindo por sua conta e risco. O alarmismo parte de suas decisões unilaterais e truculentas, pois afirmou que Israel estaria preparado "para a possibilidade de um ataque frontal". Vem criando um cenário de esgoelamento diplomático para trazer Estados Unidos ao seu lado, em decisiva coalizão, e dispor assim das bases militares estadunidenses no Qatar, no Bahrein, no Kuwait, no Iraque, na Síria e na Jordânia.
Um conflito paralelo entre os dois países poderia se tornar efetivamente direto. As duas nações religiosas estão envolvidas há anos numa guerra paralela (shadow war). O Irã até então vinha usando as chamadas forças "por procuração" (proxy), ou seja, usando terceiros — forças regionais com grupos armados em Gaza, no Líbano, no Iraque, na Síria, e no Iêmen.
Os véus cairiam por terra. Não seria mais uma disputa de Davi com Golias, como é Israel com Hamas, de um país com uma facção, mas o embate entre duas potências bélicas. O exército do Irã tem três vezes o tamanho do de Israel, levando em conta as tropas de soldados, e uma marinha poderosa. Por sua vez, Israel domina o espaço aéreo. Adota o Domo de Ferro, sistema ultra-avançado de defesa, para interceptar mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos.
A guerra atômica não será acionada por um botão vermelho, como nos fantasiosos filmes, e sim no aprofundamento da radicalização.
Ainda nos encontramos na antessala de qualquer premonição apocalíptica. Porém é momento de extrema cautela.
A trégua deve vir para socorrer a paz.