Se tivesse acontecido há nove anos, há oito anos, há sete anos, teríamos motivos para comemorar a reinauguração do Instituto de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre, nosso glorioso símbolo de educação do Rio Grande do Sul, prédio de mais de 150 anos, patrimônio histórico tombado, junto do Parque Farroupilha.
A escola retomou as atividades nesta segunda-feira (19), nos turnos da manhã, da tarde e da noite, na volta às aulas da rede estadual.
Após dez anos do início da reforma, se eu fosse governante, iria me sentir constrangido de fazer qualquer discurso. A demora representou um desastre de planejamento, um desperdício de dinheiro público.
No lugar do governador, eu apenas pediria desculpa.
Desde 2016, cerca de 1,5 mil alunos ficaram impedidos de estudar em sua escola e se viram transferidos para outras instituições da capital.
O início da reestruturação partiu do governo Tarso Genro, em 2012. Conseguimos a proeza de perder os recursos do Banco Mundial pelo atraso exagerado das obras. Parte do empréstimo do Bird no valor de R$ 22,5 milhões, com validade expirada em 2019, terminou sendo jogado fora.
A finalização do processo agora depende dos recursos do nosso tesouro.
O Instituto de Educação, considerado pioneiro no país por introduzir psicologia em metodologias pedagógicas, passou a ser usado como exemplo de malversação do erário.
É a ilustração perfeita de tudo o que não deve ser feito numa licitação. Teve todos os contratempos possíveis de se imaginar: rompimento de contrato com a empresa responsável em 2017, abertura de um segundo edital, nova empresa contratada, paralisação do trabalho por parte da iniciativa privada por atraso de pagamentos aos seus funcionários, aditivo de contrato para prolongar o tempo de conclusão.
Houve, no mínimo, seis mudanças de prazo de entrega.
Se, diante de toda a visibilidade de um prédio histórico, já ocorre essa novela fantasmagórica, é natural temer a execução de reparos em escolas menos tradicionais. Ao longo de 2023, de acordo com dados da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia (CECDCT) da Assembleia Legislativa, 89,5% das demandas por obras apresentadas pelas escolas estaduais do Rio Grande do Sul ainda não foram atendidas pelo governo. Somente 5,1% encontraram resolução, e 5,4% estão em andamento.
O monitoramento diz respeito a situações prosaicas de socorro pontual, como a necessidade de serviços de elétrica (41,3%), conserto de telhado (33,5%) e manutenção dos prédios (28,1%).
A maior ironia é que o Instituto de Educação foi entregue sem que a restauração tivesse sido finalizada. Ou seja, o vexame é maior, mascarado pela pressa. Para uma enésima promessa não virar piada, antecipou-se a sua ocupação.
Faltam 40% da reforma. As áreas do centro de formação de professores e do Museu Escola do Amanhã seguem isoladas por tapumes.