Vazios desde 2016, nesta segunda-feira (19) os corredores do Instituto de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre, foram preenchidos pela presença de seus ocupantes por direito: crianças e adolescentes. No total, 1.014 estudantes de turmas do quinto ano do Ensino Fundamental ao final do Ensino Médio iniciaram suas aulas no local, muitos deles, pela primeira vez.
A conclusão de parte das obras de restauração do colégio, fundado em 1869, foi celebrada com uma cerimônia de reinauguração, com direito a carrocinha de pipocas, artistas circenses usando pernas de pau, plataforma 360 graus, para fazer vídeos e apresentação da rapper Cristal. Ainda falta a conclusão dos espaços que receberão um centro de formação de professores e o Museu da Escola do Amanhã.
Curiosos para ver o resultado da obra e felizes com a volta das operações no IE – apelido da escola –, ex-alunos, pais de estudantes e outros moradores da Capital tentavam passar pelo portão, mas eram impedidos. Foi o caso de Silvia Regina Pinto, 49 anos, cujos quatro filhos estudaram ou estudam no local.
— Minha mais velha tem 30 anos, a outra tem 26, a outra tem 17 e o outro tem 10 anos. Minha mãe, de 82 anos, também estudou aqui. Queria vir também pra frente da escola, para ver a escola inaugurada, mas a gente fica aqui de coração partido, louca para entrar. Estou esperando eles (os filhos) saírem agora, para ver se vão deixar a gente entrar ou não — contava a mãe.
Silvia acompanhou de perto toda a mudança na vida das famílias dos alunos, que foram remanejados para quatro escolas diferentes, e a luta para que a restauração saísse do papel. Na época em que o fechamento do colégio para reformas foi anunciado, em 2016, parte da comunidade escolar tinha medo de que a reabertura das portas como colégio nunca mais acontecesse.
— Já chorei, já me diverti, já brinquei, já tirei foto com todo mundo, já abracei tudo que foi do professor. Tô adorando estar aqui hoje. Eu acredito tanto no Instituto de Educação, a luta que eles tiveram para vir para cá é muito grande. Então, é isso que eu quero para eles — revela Silvia.
Diretora do IE, Alessandra Lemes estava visivelmente emocionada durante a cerimônia. A diretora diz que, apesar dos recorrentes atrasos e interrupções nas obras, nunca achou que a escola não voltaria a funcionar lá.
— Desde o início, sempre estivemos em contato com a Secretaria de Educação, que dizia que, sim, aqui era uma escola e ia continuar sendo, só que de uma forma renovada. Claro que as especulações sempre aconteceram, de que nunca mais voltaria a ser uma escola, e a parte mais triste era ouvir “ah, quando tinha o Instituto de Educação”. Ele sempre teve, só não estava na sua casa de origem. Nunca deixamos de fazer educação e continuar sendo uma escola de referência. Depois de todo esse tempo, continuamos firmes e fortes enquanto escola — celebra Alessandra.
Das quatro instituições que receberam alunos do IE, apenas uma segue com uma parte dos estudantes, das turmas do primeiro ao quarto ano do Fundamental: a Escola Estadual Dinah Neri Pereira, no bairro Bom Fim. Segundo a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), essas etapas devem voltar para o Flores da Cunha em um segundo momento.
Atrasos e interrupções
A restauração do Flores da Cunha foi permeada por atrasos e interrupções nas obras. Iniciada em agosto de 2016, a execução do projeto tinha previsão de terminar em julho de 2017. Em agosto de 2017, o contrato com a empreiteira foi rescindido pelo governo. A retomada só aconteceria mais de um ano depois, com a seleção de outra empresa, que, em setembro de 2019, voltou a paralisar as atividades. O impasse só se resolveu em janeiro de 2022, com um novo anúncio de retorno ao canteiro de obras que se manteve, ainda que com o registro de novos atrasos.
Izabel Matte, secretária estadual de Obras Públicas, relata que o principal desafio foi dar um ritmo mais acelerado à execução, para que a escola pudesse reabrir para o ano letivo de 2024.
— A chuva sempre atrapalha, ainda mais em uma obra de restauro. O processo todo é delicado, porque não é um prédio com uma identificação comum: é cheio de detalhes, de requinte, então, tem que ter muita técnica de restauração. Além do quê, tínhamos que fazer toda uma readaptação às necessidades atuais, como acessibilidade, ar-condicionado, plano de proteção contra incêndio. Mas acho que ficou um ambiente belíssimo e tenho certeza de que as crianças vão usufruir demais desse prédio — observa Izabel.
Apesar de inaugurada, a obra no Instituto de Educação não foi finalizada – ainda falta concluir o centro de formação de professores, o que deve acontecer entre março e abril, e o espaço que receberá o Museu da Escola do Amanhã, previsto para ser entregue em dezembro.
— O Museu da Escola do Amanhã vai ser um espaço de inspiração e de projeção do futuro da educação, não apenas para o Instituto de Educação, mas para toda a educação que há hoje. Então, (a destinação desse espaço) não é para que ele seja menos escola, mas para que seja uma escola de escolas. Vai receber visitas de outras escolas, outros estudantes, professores, outras redes, que virão se inspirar aqui — pontuou o governador Eduardo Leite, durante o evento.
A instituição, historicamente ligada à formação de professores no Rio Grande do Sul, recebeu investimento de R$ 23,4 milhões do governo do Estado, para a restauração.