Quanto tempo você perde num semáforo em Porto Alegre?
Se você enxergar um ambulante com isopor de água, ou um vendedor de bala colocando o saquinho no seu retrovisor, ou um morador de rua empunhando um cartaz de papelão com apelos de caridade, ou um malabarista com bola de futebol, ou um engolidor de fogo, pode ter a convicção de que vai mofar por alguns minutos ali. Eles conhecem os pontos de maior lentidão.
Haverá um longo intervalo para assistir ao show do cotidiano e procurar tranquilamente as moedas no console do carro.
Tanto que preparei um ranking exótico, a minha lista de 10 piores sinaleiras da capital gaúcha:
- Carazinho com Nilo Peçanha
- Ramiro Barcelos com Independência
- Caçapava com Ijuí e depois Ijuí com Protásio
- Ramiro Barcelos com Protásio Alves
- São Luís com Ipiranga
- Garibaldi com Osvaldo Aranha
- Vicente Monteggia com Nonoai
- Otto Niemeyer com Wenceslau Escobar
- Sertório com Assis Brasil
- Nilo Peçanha com Marechal Andréa
É por onde ando. Durante a espera, dá para escrever minha crônica para ZH. Ou adiantar minha terapia por videochamada. Ou preparar um mate com rabo quente.
A impressão é que eu poderia carregar um saco de carvão e churrasqueira portátil no bagageiro e assar uma carne no meio-fio.
Os azuizinhos não deixam mexer no celular, mas é quase impossível diante da tentação da disponibilidade. Posso jogar Paciência, atender ligação da minha mãe e do meu pai (sem interrompê-los pela minha ansiedade), mandar mensagens aos amigos, resolver e-mails do trabalho.
Você tem tempo para encontrar a Deus, silêncio para encontrar a culpa, imobilidade para encontrar o tédio.
É uma canseira extrema.
Desfruta de muito mais do que dezenas de segundos para coçar o nariz e tirar a remela dos olhos.
É melhor apagar o carro de vez, descer, fazer amizades com os motoristas vizinhos.
Se, por azar, você ficar preso numa discussão com o cônjuge, haverá grandes chances de divórcio. Estará encurralado pela verdade, sem perspectiva de fuga. Ele poderá finalmente resumir seus anos de erros no relacionamento.
Trafegar por Porto Alegre não é uma experiência agradável. Você apenas fantasia atalhos e vivencia surtos imaginários ao se visualizar subindo nas calçadas e buzinando para os circunstantes. Nem o Waze tem ideias melhores para escapar das intermináveis paradas.
Você não para nas sinaleiras, estaciona nelas.
Algumas são tão inteligentes, munidas de câmeras, que devem sair para passear e olhar o que acontece nas outras esquinas.
Aqui, ou elas são demoradas, ou rápidas demais. É de enlouquecer até os pedestres na faixa de segurança. Alguns dependem de uma corridinha para a sua sobrevivência.
Já estive estagnado num semáforo na esquina da Cauduro, defronte ao Auditório Araújo Vianna. Trata-se de uma rua sem saída. Eu jurei que o sinal não estava funcionando. Porque ele abria e fechava mais rapidamente do que as minhas pálpebras. Eu piscava, e ele fechava. Eu me senti enganado, quem não?