Nove jogadores foram alvo de mandados de busca e apreensão da segunda fase da Operação Penalidade Máxima, realizada pelo Ministério Público de Goiás, em busca de manipulação de resultados no Brasileiro do ano passado. Atletas que integravam os plantéis da Chapecoense, do Bragantino, do Santos, do Cuiabá e do Juventude estão sendo auditados por facilitar estatísticas em troca de suborno.
E recém começou o cruzamento entre lances esquisitos e fortunas adquiridas às custas deles. Haverá muito mais investigados numa malha fina que comprometerá a crença na legalidade das disputas.
O futebol brasileiro vai perdendo, mais do que a magia e a sua paixão, a sua valiosa credibilidade.
Favorecimentos ilícitos não apenas maculam a honra do vencedor do título, mas também atingem a honestidade dos classificados para a Libertadores e Sul-Americana e colocam em xeque as equipes rebaixadas. É uma avalanche retroativa que surge de uma mera jogada roubada e premeditada.
Talvez seja o momento de revisar a natureza das apostas, que não devem ser tão detalhistas e individuais. Tudo serve para ganhar ou perder dinheiro: o número de escanteios, de cartões, de assistências, gols contra, superioridade no placar do primeiro tempo.
São pelos no ovo da bola, que podem ser deflagrados por um único jogador. Ele tem como forçar sua saída ou brigar com o juiz no exato minuto em que alguém investiu milhares de reais em doido palpite. Ou cometer um pênalti para coincidir com a vidência de um apostador.
O preciosismo inclui até o inofensivo cartão amarelo. A expulsão prejudica seriamente o andamento da partida e chama atenção, mas o cartão amarelo é comum e tem como ser planejado de modo discreto.
O que dizer do goleiro, capaz de tomar um frango de uma hora para outra?
As profecias passam a ser arranjadas. É um excesso de protagonismo e de poder dado a um só integrante do elenco. Isso facilita a extorsão, o conchavo, o assédio. Qualquer um tem influência para ser recrutado por uma máfia e se beneficiar com parte da bolada por baixo dos panos.
Se a maracutaia acontece na Série A, com os mais altos e blindados salários, por consequência, eu já suponho a adulteração que ocorre nas Séries B, C e D, com menos visibilidade e controle, com vencimentos muito mais risíveis e humanos.
É necessário voltar a centralizar as apostas no placar ou nos vencedores, definições coletivas que dependem mais do time do que de um ato isolado. Assim não correríamos o risco de negociações personalizadas, escusas, feitas fora do vestiário e desconhecidas pela direção dos clubes.
O Internacional já viu um título brasileiro sair de suas mãos em 2005. A atuação suspeita do árbitro Edilson Pereira de Carvalho culminou com a anulação de 11 jogos do Campeonato Brasileiro. O colorado, que estava à frente, foi alcançado pelo Corinthians, que terminou ganhando o caneco.
A corrupção no esporte mais tradicional no país não é de hoje. Tivemos as quadrilhas da Loteria Esportiva de 1982. Porém, parece que agora, ao contar com infindáveis opções disponíveis de arremates, a jogatina mal-intencionada encontrou a mina de ouro da farsa.