Porto Alegre é a cidade brasileira onde mais moradores falam palavrão no trabalho. Cerca de 19,5% dos entrevistados confessaram que xingam no ambiente profissional. O número representa quase 10% do cenário nacional.
O estudo desenvolvido pela Preply, plataforma virtual de curso de idiomas, consultou 1.639 moradores de quinze municípios.
No ranking geral dos impropérios de todas as modalidades, a capital gaúcha aparece em quarto lugar, com uma média de 5 palavrões por dia. Brasília, Fortaleza e Rio de Janeiro lideram as estatísticas como os redutos mais bocas-sujas do país.
O gaúcho se xinga em voz alta, na segunda pessoa.
Os dados revelam a pouca paciência do porto-alegrense com os contratempos no serviço. Ou seja, a nossa chinelagem campeia na empresa.
Caracterizado por falar alto e implicar com frequência para ganhar atenção, o gaúcho tem mesmo uma conduta litigante nos negócios, um alto grau de insubordinação.
Não leva desaforo para casa, resolve no expediente. Não sofre nenhum receio de acertar as contas e de manter a crítica. Dificilmente recua com alguma retratação e pedido de desculpa, teimoso que só vendo. Ele se sente importante dizendo a verdade sem papas na língua. Acredita que foi corajoso, nem consegue perceber seu comportamento como má-educação. Jamais admite que brigou ou passou do ponto, alega que foi ousado. Chama discussões carinhosamente de peleias.
Sua irritação é veemente e dura pouco. Apresenta explosão rápida, repentina e curta — curiosamente ele se encoleriza e, logo em seguida, volta a falar com toda a pacatez e normalidade, como se nada tivesse acontecido, deixando o interlocutor totalmente confuso.
Sua permanência no emprego depende da amnésia tolerante do seu empregador.
Da mesma forma que o palavrão libera a raiva, provoca um exorcismo da adrenalina, também cria constrangimentos entre os colegas e chefias.
Ocorre ainda o costume da auto-ofensa, quando o palavrão é dirigido mais para si do que para alguém. O que causa estranheza para os presentes: gaúcho se xinga em voz alta, na segunda pessoa.
— Tu não presta mesmo!
— Tu é um boca-aberta!
É um Hamlet falando com fantasmas, um monólogo com jeito de diálogo. Ele pergunta e ele responde. Ele bate o escanteio e cabeceia.
Nossa liderança só não é maior e mais folgada no pódio de insultos no escritório porque há ofensas secretas e regionais como “taipa”, “tanso”, “rengo” e “moscão”, que certamente não foram detectadas pela pesquisa.
Além do emprego ostensivo do “bah”, que nos poupa de inúmeros enfrentamentos. Ou do “pior”, que serve para bons e maus momentos, para concordar e discordar.
E, realmente, um “lambe-esporas” soa melhor do que um “puxa-saco”. Até dói mais.