Os parques são parques e não devem ser mais do que parques.
Querer mais do que isso é descaracterizar o acesso público.
Sou, portanto, contra a privatização do Parque da Redenção.
Porque ele cumpre o seu papel de praça democrática. Não há interesse de minha parte em que seja um shopping, para que eu encontre lojas em suas trilhas verdes, ou que tenha um estacionamento subterrâneo, capaz de causar danos ao lençol freático, ou que as bancas de vendas de alimentos sejam padronizadas para maior oneração do público.
Nunca saberemos qual será o destino do Brique, dos cantores, dos grupos de teatro, com as idiossincrasias de um comprador.
Não me atraem os efeitos especiais quando o objetivo é correr por ali, jogar futebol, pedalar, passear com a família, fazer piquenique debaixo das árvores, conectar-me com a natureza. Tenho a vida simples e deliciosa da qual preciso.
Não me falta pensar grande quando desfruto do essencial.
O que carecemos é de uma maior iluminação noturna, ampliação de câmeras para o monitoramento 24h do extenso espaço de 35,7 hectares, e patrulha da guarda municipal.
São melhorias que podem ser feitas pela prefeitura. Alegar que o sustento do lugar é deficitário apenas me soa como atestado de incompetência. Privatizar é resolver falsamente um problema livrando-se da responsabilidade.
Afinal, pontos estratégicos foram comercializados anteriormente, como o Refúgio do Lago.
Com a concessão, temo pelo espelho d’água, temo pelos jardins Alpino, Europeu e Oriental, implantados em 1941 por Arnaldo Gladosch, temo pelo auditório Araújo Vianna, temo pelo chafariz francês, temo pelos 45 monumentos, temo pelo possível cercamento no futuro.
Sofremos, em 2018, com o fim do orquidário e o respectivo transplante de 2,4 mil mudas de orquídeas. Já doeu o bastante.
O Parque Farroupilha é um patrimônio público tombado pelo município. Merece seguir assim, sem transferência para a iniciativa privada.
Não podemos afastar a população de uma das suas prediletas áreas de lazer e de entretenimento, selecionando os seus frequentadores pelo poder aquisitivo. Sua elitização aumentará a desigualdade social e o preconceito contra a sua ocupação pelos moradores de baixa renda.
Não duvide de que haverá um pedágio para entrar, seja financeiro, seja de intimação moral. Não mais será de livre-trânsito de qualquer um.
Imagine ter que dar a volta no imenso quarteirão simplesmente por não poder atravessá-lo gratuitamente para cortar caminho.
Nunca saberemos qual será o destino do Brique, dos cantores, dos grupos de teatro, com as idiossincrasias de um comprador. Editais e licitações são caixinhas de maldição.
Existe toda uma rede de comerciantes e de expressões artísticas consolidados como símbolos de Porto Alegre.
Ninguém morreu de desgosto até hoje por falta de lugar para estacionar ou pela multidão acotovelada debaixo do Monumento ao Expedicionário.
Eu apoiei a revitalização e urbanização da orla do Guaíba, que devolveu o brilho do nosso estuário para a maior interação dos porto-alegrenses. Nossas docas mereciam embarcar na modernidade. Cada projeto, porém, tem sua função.
Desde 1826, ocorre a especulação imobiliária do terreno, numa tresloucada tentativa de loteamento que Dom Pedro I impediu. Não será agora que vai acontecer. “¡No pasarán!”.