Alan se casou com Nathiele. Convidou seu irmão Thailan e a cunhada Bruna para ser padrinhos de seu primogênito. O segundo filho do casal está previsto para abril.
Alexandre, depois de se formar em jornalismo na UFSM, ficou conhecido pelas coberturas internacionais, como a guerra da Ucrânia.
Alex montou uma fazenda-modelo em sua cidade natal Tapera para investigar o sono dos ovinos.
Alisson, com a sua experiência de bartender, mudou-se para Porto Alegre e abriu um bar na Cidade Baixa.
Allana tornou-se um rosto conhecido nas reportagens da televisão.
Ana Carolina virou uma referência na tecnologia de alimentos, atuando como consultora de empresas no Japão.
Os pais seguem visitando as lápides dos filhos sem poder dar aquela notícia tão aguardada, sem poder dizer que a justiça foi feita.
Ana Paula dedicou-se à sua vocação de veterinária e assumiu uma condição de referência nacional em cirurgias difíceis e delicadas de equinos.
André trabalha com prevenção de desmatamento na reserva do Taim.
Andressa viralizou como consultora de beleza no YouTube.
Andrielle recém completou 32 anos e recebeu uma festa-surpresa em casa, com direito a fantasias das Meninas Superpoderosas, desenho de que gostava na infância.
Bárbara montou uma clínica em Viamão para combater a osteoporose na terceira idade.
Clarissa ganhou a categoria Melhor Romance de Estreia no Prêmio São Paulo de Literatura.
Crisley se especializou em retratar a mudança repentina da dentição a partir dos efeitos da ansiedade, distúrbio que se agravou na pandemia e que acaba desatualizando aparelhos ortodônticos.
Daniel foi chamado para assumir a chefia de gabinete no Ministério da Agricultura.
Danriei atua no grupo Corpo como um dos seus bailarinos mais prestigiados.
Débora abriu uma loja de confecções para gremistas, fazendo vestidos e calças com estampas tricolores. O clube apoiou as suas criações e garantiu licenciamento.
Deives encontra-se realizado cuidando da gerência no Nordeste de importante grupo farmacêutico.
Driele levantou seu próprio negócio, uma padaria exclusiva de cucas, que já tem cinco franquias espalhadas pelo estado.
Elizandro é um dos estilistas gaúchos confirmados na São Paulo Fashion Week.
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Nada disso aconteceu. Todos esses jovens foram assassinados no crime da boate Kiss, em Santa Maria, há exatamente dez anos.
No máximo, experimentam uma vida fantasiosa, alternativa e hipotética na dor de seus pais, que continuam imaginando o que suas crianças teriam realizado ao longo dessa década de luto.
Os familiares permanecem aniversariando saudades, soprando velas apagadas de seus entes queridos, idealizando existências ceifadas no apogeu universitário.
Nenhum deles teve chance de cumprir seus sonhos, de formar um lar, de fazer história com o seu empreendedorismo, por absoluta negligência de uma boate sem prevenção de incêndio.
E o que estariam fazendo hoje de maravilhoso, de inédito, de surpreendente Vitória, Viviane, Vinicius, Victor, Vanessa, Vanderlock, Vagner, Ubirajara, Tiago, Thiago, Thanise, Thais, Thailan, Tanise, Taíse, algumas entre 242 vítimas do 27 de janeiro de 2013?
É uma lista infindável de chamada só com ausentes inconsoláveis, irreparáveis.
Não há como calcular o desperdício de almas, de inteligência, de dons, de sensibilidade simplesmente porque houve um incêndio e não existia para onde correr, não existia como o pulmão buscar o ar da rua.
Os universitários morreram asfixiados por falta do mais básico numa casa noturna. Morreram pela inexistência de janelas e de portas.
Esses futuros ainda não escaparam do passado. Da mesma forma que se encontraram presos numa ratoeira numa noite quente de verão, estão atualmente imobilizados pela impunidade jurídica.
Ainda não reouveram a tranquilidade da posteridade. Ainda não saíram daquele endereço, de número 1925, na ladeira da rua dos Andradas.
O júri do caso acabou anulado. Os pais seguem visitando as lápides dos filhos sem poder dar aquela notícia tão aguardada, sem poder dizer que a justiça foi feita, que eles podem finalmente descansar em paz.