O respeito é um amor que fica para sempre.
Temos o costume de faltar com a educação dentro de casa, confundindo intimidade com informalidade. Não usamos mais “por favor”, “com licença” e “obrigado” com a família. Queremos atalhar, falar menos, conseguir tudo com o mínimo de esforço. Acabamos atropelando, tomados pela pressa.
Por sua natureza egoísta e imediatista, a pressa sempre vira grosseria. Porque você deixa de pedir para mandar ou exigir. A ansiedade supera o tato.
A polidez justamente nos protege de magoar o outro. É um plástico-bolha que envolve as pessoas que amamos, para não ferir, não ultrapassar os limites, não machucar com indelicadezas.
Depois que você dispensa a educação no lar e trata a todos de qualquer jeito, nenhuma atenção perdura. Nenhuma conversa, nenhum almoço ou jantar, nenhum abraço, nenhum olhar. A cordialidade desaparece. Quando o convívio não é mais prioridade, resta a insolência dos mais novos.
As crianças jamais serão responsáveis se não são capazes de honrar a quem tem mais experiência, a quem nasceu primeiro, a quem veio antes. É um passo para a clandestinidade dos afetos. Os pais, por sua vez, tornam-se reféns da birra, do amuo, do grito.
A democracia só existe porque há hierarquia — fundamental para disciplinar os nossos demônios interiores e entender que nada é dado de graça, que cada lugar no mundo é conquistado com esmero.
Até hoje, eu trato a minha mãe como “senhora”:
— A senhora gostaria disso ou daquilo?
— O que a senhora deseja?
— Como a senhora tem passado?
— A senhora está bem?
Quem vê de fora pode até pensar, pelo tratamento distante, que não sou filho dela. Ou que sou um estranho, que a conheço há pouco tempo.
Mas é o contrário: é o reconhecimento da sua grandeza, é uma reverência a sua importância em minha vida, é a gratidão pela sua história, é o apreço pela tradição.
Minha mãe merece a formalidade do cuidado. Não é uma qualquer. Ela tem a exuberância de 83 primaveras, educou quatro filhos, acumulou uma esforçada aposentadoria a partir de carreira no Direito, nos incentivou a estudar e jamais ser presas da soberba. Soberba que seria me achar digno de estar no mesmo patamar de minha mãe. Estou sempre atrás para o que ela precisar, mas atrás, porque nem chego aos pés dela. Não posso diminuir o que viveu. Não posso desconsiderar a diferença de juízo e serenidade de três décadas a mais. Não posso banalizar a sua longevidade intelectual, a autoridade dos seus conselhos, a influência de suas palavras.
É a senhora minha mãe, é a dona Maria, a dona do meu destino.