A vida pessoal do candidato não poderia pesar na hora do voto. Ela somente é importante se existir algum desvio de caráter, abuso, prática que desrespeita frontalmente a lei.
Excluindo as evidências de comportamento patológico, que colocariam o candidato sob suspeita, não é relevante a privacidade das condutas: se é religioso ou não, se é esportista ou não, se é casado ou não, se tem filhos ou não, se é festeiro ou caseiro, muito menos qual a sua orientação sexual.
Até porque tudo tem limites. Nelson Rodrigues dizia que, se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém mais se cumprimentava na rua.
Casamento feliz não determina um bom administrador, solidão não é prejudicial para a competência.
O que deve prevalecer é a atuação social do candidato, sua formação, como gerencia a máquina pública, como toma decisões, como se posiciona, como combate a desigualdade, restringindo-se a visibilidade à prática de ideias e à defesa de um projeto de governo.
Mas parece que os Stories pessoais invadiram as histórias dos debates no segundo turno das eleições do Brasil.
Há uma guerra subterrânea que usa a imagem das primeiras-damas, como se elas fossem comandar na prática um estado ou um país. Somada a isso, existe uma sombra sexista rondando o poder, como se estivéssemos escolhendo quem é o mais macho dos postulantes, quem não brocha, quem não lava louça, quem não é submisso, quem fala grosso, quem usa camiseta de futebol.
A exaltação do ogro é o menosprezo total à figura feminina ou à homoafetividade.
Um perigoso concurso de miss vem acontecendo nos palanques. Logo mais teremos desfile de gala e de trajes de banho entre esposas e namorados, para verificarmos as medidas da cintura e definirmos quem se encontra em forma, com mais massa magra ou gorda.
No âmbito nacional, não estamos optando entre Michelle Bolsonaro e Rosângela Lula da Silva, ou no cenário gaúcho, entre a personal trainer Denise Veberling e o médico Thalis Bolzan. Nenhum deles está disputando um cargo eletivo. Nenhum deles irá empunhar a caneta para decretos.
Nem são enfeites para ostentação, figuras decorativas para ganhar simpatia do eleitorado conservador ou flexível. São pessoas com as suas reservas, dores e alegrias, que merecem respeito e ficar de fora dos ataques e fake news da polarização.
Quanto mais você expõe politicamente quem o acompanha, menos segurança demonstra ter em sua própria personalidade.
O que nos interessa é apenas eleger um governador e um presidente que solucionem os nossos problemas com discernimento e zelo, sem qualquer benefício particular, nada mais.